Nos últimos dias pipocaram nas redes sociais diversos textos e dissertações sobre a tal da precificação no Allianz Parque. A maioria, claro, condenando os preços praticados pela Diretoria, acusando-a de ser elitista, segregadora, “gourmet”, entre outros adjetivos que frequentemente são utilizados quando é tratado esse tipo de assunto.
Acontece que muitas dessas teses se baseiam em diversos aspectos que, se não deixaram de existir no futebol, são ultrapassados ou mesmo não são levados em conta nessas abordagens. Comparações com valores praticados anos atrás são comuns, mas comum também é o esquecimento de outros fatores que ajudam a justificar porque os clubes – e não apenas o Palmeiras – impõem àqueles que frequentam sazonalmente seus jogos valores tão altos.
Para início de conversa, é preciso lembrar que há anos o futebol deixou de ser um simples divertimento para virar negócio, onde os clubes praticamente viraram empresas e passaram a visar, além dos títulos, o aumento do dinheiro proveniente das televisões, patrocínios, vendas de jogadores e bilheteria. Gostem ou não, fato é que atualmente o time que pode ser campeão é (normalmente) aquele com maior poder de investimento, uma vez que o amor à camisa deixou de existir desde o período DM – Depois de Marcos, e os atletas, sem dúvida alguma, se estão em determinado clube hoje é porque este clube está pagando mais do que o outro. Desta forma, ou arrecadamos mais e contratamos os melhores, ou deixaremos de ser protagonistas para sermos eternos coadjuvantes.
É claro que, caso o clube deseje inflacionar seus bilhetes, deverá oferecer contrapartidas para o torcedor – e sim, hoje podemos dizer que, realmente, o Palmeiras nos proporciona muitos motivos para acompanhá-lo in loco.
Possuímos um estádio de primeiríssimo mundo, eleito por diversos e respeitados institutos como um dos mais modernos, bonitos e confortáveis do planeta – não deixando de mencionar, ainda, o fator localização que, apesar de não ser quesito nesse tipo de pesquisa, deve ser sempre pontuado como mais um aspecto favorável.
Para 2015, foi montada uma equipe com jogadores gabaritados, como Cleiton Xavier, Zé Roberto e Arouca; chegaram atletas com estatísticas e aproveitamentos em determinados fundamentos muito interessantes, casos de Gabriel, Victor Hugo e Robinho; mantivemos aqueles que se salvaram do quase naufrágio em 2014; e buscamos outros jogadores para compor o grupo. Ou seja, ao que parece, a parte do clube foi feita.
O valor de R$ 80,00 para a entrada no setor mais popular de um estádio, não importa este qual seja e onde seja, de fato assusta, mas é preciso analisar por que o preço é este, e quais as possibilidades de “burlá-lo”.
O Avanti, como não podia deixar de ser, é o principal responsável por tudo.
A receita fixa do Palmeiras hoje com o seu programa de sócio torcedor é maior do que o valor pago pela Crefisa para estampar sua marca na nossa camisa. Enquanto a empresa paga R$ 23 milhões por ano, o Avanti deve arrecadar aproximadamente R$ 27 milhões no mesmo período. Desta forma, a tentativa de colocar o preço do bilhete individual nas alturas para forçar o torcedor a ser sócio torcedor é minimamente coerente. É com base no número de associados que diversas empresas, por exemplo, verificam quão útil seria para ela se associar a determinado clube, e é óbvio que se tivermos cada vez mais bem posicionados neste ranking, a chance de obtermos mais parceiros, e consequentemente mais renda, e consequentemente melhores atletas, e consequentemente mais títulos, aumentam.
Nosso programa de sócio torcedor oferece, ainda, diversos planos que ajudam a amortizar o valor a ser pago no ingresso. Interessante citar pelo menos dois deles. O plano de R$ 19,90 oferece 50% de desconto no setor Gol Norte. Fazendo as contas, considerando que tenhamos 4 jogos em casa/mês, ao invés do torcedor pagar R$ 320,00 neste período, poderá desembolsar R$ 180,00 – já é uma bela diferença. E há um adendo: caso o torcedor seja cliente de um determinado banco, poderá obter ainda mais 50% de desconto na aquisição do ingresso, caindo para R$ 100,00 o valor dispensado no mês.
Outro plano oferecido, e talvez o mais bacana de todos, é aquele onde se paga R$ 70,00 ao mês e o torcedor obtém entrada gratuita em todos os jogos, não importando quantos forem e qual a importância deles. Ou seja, os mesmos 4 jogos que individualmente custam R$ 80,00, por conta deste plano do Avanti, ficariam apenas R$ 17,50 cada um – isso sem falar na possibilidade de compra antecipada e sem filas.
Para efeito de comparação, vamos supor que em 2005 um ingresso para assistir a um jogo no antigo Palestra Italia custasse R$ 20,00. Utilizando o índice IPCA, este valor atualizado ficaria em pouco mais de R$ 34,00. Ou seja, enquanto hoje é possível se pagar R$ 17,50 para assistir a uma partida no esplêndido Allianz Parque, até pouco tempo atrás se pagava quase o dobro para torcer para o Verdão no charmoso e inesquecível, porém antiquado, Palestra Italia.
Uma das vantagens que justificam o máximo esforço para que o torcedor se torne de fato um membro Avanti – principalmente nos planos que concedem o benefício da gratuidade – é que haveria assim uma obrigação implícita para que torcedor compareça ao jogo – caso contrário terá prejuízo se deixar de ir – criando um vínculo mais intenso com o clube, e ajudando a manter o público do Allianz Parque em alta toda partida.
Ainda que o torcedor, por algum motivo absurdo, relute em se associar ao Avanti e se aproveitar dos benefícios oferecidos por ele, a única parte da relação que continua se dando bem com isso é o clube. A arrecadação oriunda dos ingressos avulsos é altíssima e necessária não só para reforçar os caixas do clube, mas também para ajudar no pagamento dos custos de operação do novo estádio. Apenas a título de curiosidade, o Palmeiras gastou no jogo contra o Capivariano R$ 400 mil só para receber a partida – neste valor está incluso, por exemplo, arbitragem, taxa de federação, exame antidoping, seguranças particulares, contratação da PM, entre outros gastos. Para se ter uma ideia, em jogos contra adversários do mesmo quilate disputados no Pacaembu nossa renda total era de aproximadamente R$ 300 mil.
Importantíssimo lembrar, também, que eventual diminuição no valor avulso do ingresso pode trazer sérios prejuízos ao Avanti, uma vez que não só ajudaria a afastar o torcedor do estádio – já que o compromisso ora assumido não existiria mais, e assim o torcedor menos fanático poderia optar por fazer outro programa ao invés de ir ao estádio – como haveria ainda o risco de se tornar mais vantajoso adquirir o ingresso de forma individual ao invés da obtenção via Avanti, o que a médio prazo resultaria não só na diminuição no número de associados como, também, no fechamento do programa – e aí voltaríamos a chegar nas bilheterias da Turiassu às 6 da manhã para evitar longas filas, com os guichês abrindo durante o horário comercial, correndo o risco de tomar chuva, blá blá blá.
Uma das soluções para tentar diminuir o impacto dos altos valores de ingresso seria aumentar a oferta do setor mais popular, uma vez que o setor Gol Norte possui capacidade para cerca de 6 mil pessoas, mas a alta procura faz com que os bilhetes acabem rápido, forçando assim o torcedor a buscar entradas em outro setor, cujo valor é mais caro. Mas a setorização do estádio é assunto para um outro post, uma vez que se trata de discussão também complexa, que abordaremos em breve.
Via de regra, ao mesmo tempo que o torcedor exige um time forte e que lute pelos títulos, é preciso ter em mente que, para tanto, é necessário obter cada vez mais dinheiro, por diferentes meios, até porque todos os nossos rivais estão indo não só pelo mesmo caminho, como arrecadando ainda mais – a RGT pagará para eles R$ 170 milhões por ano, e para nós R$ 100 milhões; enquanto elas estão fazendo de tudo para conseguirem modernizar o La Bambinera para implantar a mesma filosofia de arrecadação praticada aqui.