Treinador destaca liderança do veterano lateral no plantel do Palmeiras, se surpreende com repercussão sobre Valdivia e tenta conter euforia com Gabriel Jesus
Encantado com a participação da torcida no Campeonato Paulista e na Copa do Brasil, Oswaldo é só elogios ao comportamento e comprometimento dos palmeirenses na reformulação da equipe. As mudanças, aliás, motivaram o treinador a aceitar o projeto apresentado pelo Verdão. Mas ele vê o time em formação e pede calma, principalmente quando o assunto é o novato Gabriel Jesus. Já quando o assunto é Zé Roberto…
– Trabalhar com o Zé é um prêmio para a minha carreira. É um troféu trabalhar com um jogador como ele – enaltece.
Experiente no futebol, Oswaldo já teve a oportunidade de formar grandes equipes e trabalhar ao lado de jogadores importantes, como Romário, Marcelinho Carioca, Rogério Ceni, Luis Fabiano, Kaká e Seedorf. Com todo esse currículo, ele se mostra surpreso sobre a repercussão das informações relacionadas ao chileno Valdivia no Palmeiras.
– Acho que está ganhando vultos inimagináveis. Precisava acontecer algo diferente. Se é um clube que está disputando a Libertadores com certeza o foco não seria esse – afirma.
Na apresentação, você disse que saiu da calmaria do Japão e encontrou o futebol brasileiro em um mar revolto. O que o fez acreditar e apostar em tranquilidade no Palmeiras?
Não vim para o Palmeiras buscando tranquilidade, não. Muito pelo contrário. Só acho que é uma agitação saudável. Umas mudanças foram feitas, tem a interferência positiva que a torcida tem tido nessa simbiose com a arena, tem sido uma coisa muito legal, muito motivadora e que tem mexido muito conosco. Além das mudanças estruturais, de comissão técnica e elenco, a gente ainda tem esse adendo da torcida na arena. Tudo isso é muito motivador
Você passou pelos três grandes clubes de São Paulo. O que você via no Palmeiras, como adversário, que o incomodava e que hoje você comemora por ter essa característica a seu favor?
A torcida é fantástica, é uma torcida que, pela motivação que tem, pelo barulho que faz, acaba se igualando às torcidas que às vezes são mais numerosas. Lembro que nas duas vezes em que o Santos enfrentou o Palmeiras na Vila Belmiro, a torcida era menor mas era mais concentrada e mais participativa que a do Santos, que também é uma torcida que participa bastante. Essa característica é muito importante. De 1997 pra cá, quando voltei ao futebol brasileiro e enfrentei o Palmeiras seguidamente, o clube se modificou muito nesse tempo. Em 1997 era muito forte, foi quando o Felipão veio, acho que depois do Paulista. O time tinha jogadores de altíssimo nível, sempre contratando mais e mais. Eu me lembro que foi mais ou menos a época que chegou o Alex, tinha Zinho, César Sampaio, Cléber, Evair, Juninho lateral, Arce, Marcos no gol. Era um timaço naquela época. Mudou um pouco ao longo do tempo. Já em 2000, quando eu fiz os dois primeiros jogos da Mercosul pelo Vasco, já era outro time, com o Marco Aurélio, mas não menos importante. Era muito forte também, com outros jogadores. O Palmeiras tem essa característica de grandeza, de força do elenco, acima de tudo muita força com a torcida.
O que achou dessa marca de ser o primeiro a treinar os quatro grandes do Rio de São Paulo?
Enquanto eu não sabia que era o único era normal. Pela rotatividade que temos trabalhando no futebol brasileiro não causava nenhuma espécie. Mas saber que ninguém tinha conseguido isso me deixou com orgulho. Outros virão, com certeza, mas eu fui o primeiro. Isso me deixa muito feliz.
O Palmeiras passou por uma reformulação grande no fim do ano. Foi a maior da sua carreira? Como é chegar em um clube com tantas mudanças?
Não tão numerosa, mas o Vasco em 2000 contratou muitos jogadores também. Euller, Juninho Paulista, Jorginho Paulista, Fábio… Muitos jogadores que deram outra cara ao time. Houve uma fase no Corinthians em que muitos jogadores foram contratados, mas foi uma coisa mais gradativa. De uma vez, acho que essa foi a maior mudança que eu encontrei numa equipe. Não é fácil trabalhar, mas não é fácil trabalhar de qualquer outra maneira. De certa forma, pelo quadro que tinha aqui, foi uma coisa benéfica. Primeiro porque muda a mentalidade que está em formação. São pessoas que não se conhecem que precisam se entender. Isso dá uma característica diferente ao trabalho. Mas é uma coisa boa, é uma forma boa de trabalhar. Acho que me dá condição de desenvolver uma base e possivelmente dar continuidade a um bom trabalho.
E como manter o grupo motivado? A concorrência interna é muito grande.
É uma arte que eu sempre gostei de fazer. Claro que quem está fora sempre vai oscilar porque o equilíbrio de motivação é muito variável e depende da individualidade. Cada um encara de uma forma, depende muito do momento e da perspectiva, da ideia do cara que está de ser aproveitado ou não. É uma ciência legal com a qual eu gosto de conviver. Aqui está todo mundo motivado.
O Palmeiras passou anos difíceis recentemente. O retrospecto do clube não o preocupou de alguma forma?
Não me preocupou porque sabia que havia um projeto com bastante mudanças. Por outro lado até me motivou porque quando você pega uma equipe que já foi campeã e está consagrada é mais difícil motivar e mudar as direções. Assim fica tudo ao meu caráter, depende mais da minha intervenção
Pelo o que você via de fora, a repercussão com assuntos relacionados ao Valdivia no Palmeiras o surpreendeu?
Dentro de uma forma indireta eu acompanhava. Você se interessa em saber o que se passa no Corinthians, no Santos, no São Paulo, no Palmeiras. Só que eu acho que está ganhando vultos inimagináveis. Precisava acontecer algo diferente. Se é um clube que está disputando a Libertadores, com certeza o foco não seria esse. As pessoas iam virar para outro lado. Acontece que, em uma semana que você não vai jogar um clássico, fica todo mundo querendo uma coisa mais importante para destacar. Por isso eu acho que o foco tem sido esse.
Qual seu estilo de trabalho com o Valdivia?
Normal, de tratar um jogador de qualidade. Não quero rota de colisão, mas também não vou beneficiá-lo em nada. Eu quero utilizá-lo bem, desde que ele esteja pronto para isso. Não vou com a cabeça de tratá-lo bem ou entrar em rota de colisão. Eu vou apenas pensando apenas em utilizar um grande jogador como ele é.
A torcida se pergunta como o Palmeiras vai jogar quando você tiver Valdivia e Cleiton Xavier à disposição. Como escalar esse meio de campo?
Nem eu sei ainda. Quando tiver o Cleiton e o Valdivia, nós vamos saber. Eu penso assim, que são grandes jogadores e podem atuar juntos, sim. É uma possibilidade eles jogarem juntos com Zé, Robinho, Arouca… são possibilidades. Uma coisa é aquilo que se apresenta pronto, e o outro é a realidade de momento. A realidade de momento que vai te dizer quem vai jogar, quem está mais pronto, se os dois estão prontos, se jogam juntos. É uma coisa que ainda não tem previsão.
Seu trabalho limitado com a base por causa do regulamento do Paulistão o incomodou?
É muito ruim, é depressivo ao futebol, não é uma coisa que nos ajude. Essa evolução com quem está aparecendo é importantíssima. Você não pode limitar, porque você aí está podando a possibilidade de novos frutos e grandes jogadores. Hoje são incógnitas que hoje você muita possibilidade, mas não pode fazer com que eles realmente despontem. Isso é ruim, atrofia e não ajuda em nada.
E essa pressão sobre o Gabriel Jesus? Muitos torcedores já o querem como titular…
É nociva, ruim, difícil de controlar porque trata-se de emoção de torcedor, mas não posso trabalhar só assim. Trabalho muito com a emoção, mas não posso trabalhar só assim. Tem de ser racional e ver as reais condições do jogador. Hoje ele não passa de uma promessa. Eu encaro como promessa e vou tentar aprovar tudo o que for de bom para que ele se torne uma realidade. Trabalhei com muitos jogadores que estavam na situação dele, na idade dele. A maioria deu certo, mas alguns não deram. Temos de ter cuidado com isso. O fato de ele ser o que é hoje não quer dizer que vai ser daqui alguns anos. Temos de saber caminhar com essa realidade, independente do que se espera. Quem tem de tomar a decisão somos nós e estamos preparados para fazer o que for melhor.
Como está sendo esse seu retorno para a cidade de São Paulo?
Adoro São Paulo, gosto muito de viver aqui, é minha quarta vez morando em São Paulo, me adapto bem. É um prazer. Não tenho tido muita hora vaga. Como ainda não consegui arrumar uma moradia definitiva, nas horas vagas quando tenho mais de 24 horas eu vou ao Rio de Janeiro para ver minha família, meus filhos, minha esposa, minha mãe, meus irmãos. Aqui não tenho feito muita coisa, é mais trabalho.
Alguns treinadores brasileiros tem buscado ter uma experiência fora do Brasil, com cursos e estágios. Você também pensa nisso?
Tenho 40 anos de carreira, com 22 anos e meio fora do Brasil. Claro que em centros que não são tão grandes. Mas para lá vão os grandes. Na Copa do Mundo tinha três treinadores que foram meus adversários no Japão, outros tantos que eu encarei no Catar. Joguei sempre contra alemães, franceses, ingleses, belgas, italianos, espanhóis, portugueses. Sempre tive esse intercâmbio. Na minha época de preparador físico, desde os anos 80 quando saí a primeira vez, eu assinava revista, fazia viagem, curso. Continuo fazendo até hoje. Ano passado fui a Valencia fazer um pequeno estágio, em 2003 fiquei duas semanas com o Arsene Wenger no Arsenal. A minha vida toda eu fiz isso. Não vou programar só para agora. A minha reciclagem é contato com pessoas, brasileiros que trabalharam na Inglaterra, na Itália. Tenho todo esse arsenal na minha mão. Não vou ficar dependendo só de viagem, isso eu fiz a minha vida inteira. Falo bem inglês, leio e escrevo, então tenho tudo aos meus pés. A televisão brasileira passa todos os jogos. Essa semana vi Barcelona e Manchester City, vi Atlético de Madrid e Bayer Leverkusen, eu vejo tudo e sei tudo. Não é uma ideia fixa, faz parte da minha rotina.
Na sua opinião, o que falta ao futebol brasileiro?
Não é o que falta ao futebol brasileiro, é o que falta ao povo brasileiro, na formação. Enquanto o futebol dependeu da individualidade, nós reinamos soberanos durante décadas. Hoje a gente está percebendo que não isso. O homem que sai da sociedade e vai para o campo, não é o que a sociedade vai fazer com o campo, é o homem e como ele vai se comportar. Dois países se desenvolveram muito no futebol recentemente, Japão e Estados Unidos. Os dois tiveram Copas do Mundo recentes e que subiram muito no ranking, que subiram da nota 2 para a nota 7, diferentemente da Alemanha, que estava na nota 6 e subiu para a nota 10. Quem vai de dois para sete sobe cinco, quem vai de seis para dez sobe quatro. Esses países se desenvolveram mais porque tem filosofias. A Alemanha e França também têm, mas esses são novos, são novas concepções, gente que está fazendo por onde há mais tempo. A interferência na formação da pessoa tem interferido na equipe de futebol profissional, nas ligas e no desenvolvimento do futebol.
Como está sendo essa experiência de jogar com estádio lotado quase que todos os jogos?
É maravilhoso, isso eu nunca tinha visto. No dia que jogaram São Paulo e Corinthians no Morumbi, o Palmeiras jogou contra o Capivariano. No Morumbi deu 18 mil pessoas, na nossa arena deu 32 mil pessoas. É algo que temos de valorizar muito esse trabalho todo que o presidente Paulo Nobre vem desenvolvendo há algum tempo.
O Palmeiras tem uma tradição de ter uma torcida impaciente…
Todos têm, não conheço nenhuma torcida paciente. Nem a do japonês, que é impaciente da maneira deles. Não fazem alarde, não agridem ninguém. Mas quando ficamos cinco jogos sem ganhar, eles fecharam a frente do ônibus e ficaram parados olhando. Não gritaram, não deram paulada, não xingaram ninguém, não jogaram nada no vidro, ficaram parados para sentirmos que eles não estavam satisfeitos com o que estava se passado. Eu estava conversando com um amigo português que disse que no Brasil somos apaixonados por futebol, mas lá eles são fanáticos. Quem vem da Turquia diz a mesma coisa. Eu encontro isso em todos países que eu vou. É global, universal.
Mas no Palmeiras sempre existiu aquela história da Turma do Amendoim, que eram os torcedores que ficavam atrás do banco…
Eu tinha isso lá em Kashima, tive com a do Botafogo no Engenhão, com a do Santos na Vila. É sempre a mesma coisa, não muda. Não tem nenhuma diferença. Pode ser a turma do amendoim, a turma da sardinha lá em Santos, a turma da pipoca lá no Engenhão, do sushi lá no Japão. Cada um tem a sua cor, com seu sabor, seu recheio e seu tempero (risos).
Como está sendo o trabalho com o Zé Roberto neste início de temporada?
Aqui no Palmeiras tenho tido experiências muito boas, muito positivas. Essa da torcida no Allianz Parque, essa outra coisa de ter se contratado muitos jogadores. Muita coisa nova. Trabalhar com o Seedorf no Botafogo foi um pouco parecido. Trabalhar com o Zé hoje para mim é uma festa, é um prêmio para a minha carreira. É um troféu trabalhar com um jogador como ele.
Ele desempenha bem o papel de líder, conversa com os mais jovens, com o Gabriel?
O tempo todo. Com discrição e educação. O Zé é um cara polido, que sabe muito bem se portar, sabe a importância que ele tem sem deixar extrapolar. É um cara humilde dentro da grandeza dele. Tem sido uma experiência muito legal trabalhar com ele.
Você já considera o Palmeiras um time pronto?
Nós somos um time em formação, estamos trabalhando para que o primeiro estágio, no Campeonato Paulista, chegar possivelmente a uma final. Chegando lá vamos pensar em ganhar, claro. Daí partir para o Campeonato Brasileiro com alguma coisa estruturada, mas sempre com um time em formação.
Qual mensagem você gostaria de deixar para o torcedor do Palmeiras?
Estou muito feliz com a torcida, nunca vi uma manifestação como essa. Todo mundo aqui está muito motivado, principalmente por essa participação deles. Isso tem nos motivado muito. Todos querem dar uma resposta positiva e dar uma alegria aos torcedores.
Fonte: Globoesporte