Há 50 anos, Gildo marcava um gol a 9 segundos de jogo contra o Vasco, no Maracanã.
Aos 75 anos, Gildo ainda carrega a marca de ter feito aquele que, até hoje, é considerado o gol mais rápido da história do Palmeiras e também do estádio do Maracanã, marcado aos nove segundos do primeiro tempo na goleada de 4 a 1 sobre o Vasco, pelo Torneio Rio-SP, em 7 de março de 1965.
Na casa do ex-ponta-direita, no bairro de Perdizes, na capital paulista, muitos quadros com recortes de diferentes anos relembram o momento histórico. “O (técnico) Filpo (Nuñez) era muito exigente e toda hora falava que tinha que fazer o gol mais rápido. Ele treinava muito esse tipo de jogada. Eu marquei, mas o mérito também foi dele”, recorda-se Gildo, em entrevista exclusiva à Revista Palmeiras, cuja edição número 6 chega aos sócios do clube e aos sócio-torcedores Avanti neste mês de março.
Depois que perdeu a esposa, Erina Helena, a ‘Tata’, em 2002, a vida do ex-atleta mudou. “Ele é bastante lúcido, mas entrou em depressão profunda após a morte dela. Nunca mais foi o mesmo”, explica Fernando Bergola, um de seus filhos.
De fala mansa e sotaque nordestino oriundo de sua terra natal, Ribeirão, interior de Pernambuco, Gildo nunca se afastou do clube que lhe acolheu de braços abertos. Jogou no Flamengo, no Santa Cruz e no Atlético-PR. Teve até proposta para atuar no Santos, em 1967, mas o coração sempre foi verde e branco. Ele chegou a dividir apartamento com outro craque da Academia, Tupãzinho, e morou no mesmo edifício de Djalma Dias.
Apesar de ter seu nome escrito na história, Gildo não atendia uma equipe de reportagem havia quase uma década. “Ele prefere ficar no cantinho dele e é tímido para dar entrevistas. Mas, quando o papo é informal, ele se solta. O maior prazer dele é falar sobre a carreira”, conta Bergola.
A imbatível marca teve responsabilidade do técnico argentino Filpo Nuñez. Ele era conhecido por treinar exaustivamente jogadas ensaiadas. Uma delas, logo no apito inicial do árbitro. Tupãzinho tocava a bola para Ademir da Guia ou Servílio. Um deles recuava alguns metros para Djalma Santos. De primeira, o lateral lançava para dentro da área adversária, sempre esperando a entrada de Gildo. Foi exatamente desta maneira que o ponta palmeirense marcou o tento mais rápido do Maracanã.
Em uma entrevista para o programa ‘Gol, o Grande Momento do Futebol’, exibido em 1993 pela TV Cultura, Filpo detalha como orientou Gildo no lance. “Não vá pela lateral, pois mesmo que ganhe na corrida, vai perder o ângulo. Então, entra pela diagonal para desembocar direto no quarto zagueiro. Quando o goleiro sair, você estará ali e não vai fechar os olhos”, revelou.
De acordo com historiadores da SEP, a súmula da partida não aponta em quantos segundos saiu o gol. As publicações da época são contraditórias. O jornal Última Hora, do Rio de Janeiro, cita 5 segundos na manchete de capa. Já o Jornal do Brasil fala em 9 segundos. Outros, apontam 7s.
O ex-camisa 7 diz que vai pouco ao Allianz Parque porque muito dos seus companheiros do passado não estão mais lá. Prefere ver os amigos todos os dias em uma praça localizada próxima à rua Cayowa, pertinho do Palmeiras. Em um futuro breve, a vida do ex-atacante deverá virar documentário, graças ao esforço do filho e de Amanda Nascimento, uma das sobrinhas que ainda reside em Recife. “Estamos coletando imagens fotográficas e filmagens para fazer uma linda homenagem”, conta ela.
Gildo foi o primeiro ponteiro a receber o apelido de ‘Bala’, antes mesmo de outro ídolo alviverde, Edu Bala, em referência à velocidade para ganhar as disputas com os rivais. Balançou as redes 40 vezes em 249 partidas pelo clube, realizadas entre 1961 e 1969. “O Palmeiras me ajudou a ter praticamente tudo o que eu tenho. Sou Parmeirão!”, brinca o ‘Bala’ palmeirense.
Ficha Técnica: Vasco 1 x 4 Palmeiras
Data: 07/03/1965 (domingo)
Local: Rio de Janeiro-RJ
Estádio: Maracanã
Competição: Torneio Rio-São Paulo
Público: 39.806 pagantes
Palmeiras: Valdir; Djalma Santos, Djalma Dias (Tarciso), Valdemar Carabina (Santo) e Geraldo Scotto; Dudu e Ademir da Guia; Gildo, Servílio (Ademar Pantera), Tupãzinho e Rinaldo. Técnico: Filpo Nuñez
Vasco: Leves; Joel, Brito, Barbosinha e Ari; Maranhão e Oldair; Luizinho, Lorico (Saulzinho), Célio e Zezinho. Técnico: Zezé Moreira
Gols do Palmeiras: Gildo, aos 9 segundos do primeiro tempo; Tupãzinho, aos 42 minutos do primeiro tempo e aos 7 minutos do segundo; e Ademar Pantera, aos 45 minutos do segundo tempo.