Prezados Jogadores,
Tive a ideia de escrever essa carta para vocês às duas e meia da manhã desta segunda feira, 22, quando, após o término da rodada, fiquei confabulando em minha cama o que tem sido o campeonato para nós, e o que podemos esperar para os próximos trinta jogos da competição.
Esta carta não é mais uma daquelas em estilo maurobetingano, onde falarei o quanto significa a camisa do Palmeiras para o palmeirense, ou lembrarei da história do nosso clube e o quão importante seria que vocês soubessem o valor dela e a necessidade de mantê-la viva e acesa pela eternidade.
Até porque, convenhamos, palmeirenses somos nós torcedores, e ponto final.
Tampouco utilizarei esse espaço para fazer comparações e solicitar que o Dudu encarne o Edmundo, que o Alecsandro seja um novo Evair, ou mesmo que o Victor Hugo nos faça acreditar que pode sim ser o novo Luís Pereira. Não quero isso. Acho qualquer tipo de comparação ignorante e até mesmo limitativa. Nós palmeirenses queremos apenas que o Dudu seja o Dudu, que o Alecsandro escreva sua história sendo o Alecsandro, e que o Victor Hugo seja mais um zagueiro a se consagrar com a nossa camisa.
Já se passaram oito rodadas do Brasileirão, e estamos a oito pontos do líder – sim, o líder para nós é o SPFC, pois temos consciência que o Sport não aguentará até o final. E, curiosamente, nosso próximo adversário é justamente o atual líder, em nossos domínios.
Nesses oito jogos o Palmeiras não foi nada mais nada menos do que o… Palmeiras! Os últimos quinze anos nos ensinaram que só o Palmeiras é capaz de perder para o Goiás em casa com o estádio lotado. Só o Palmeiras tem o poder de empatar com o até ontem lanterna Joinville fora de casa, mesmo sem torcida adversária, e sem criar uma mísera chance de gol. Só o Palmeiras consegue iniciar uma partida difícil como aquela contra o Inter abrindo o placar, e terminar o jogo com o empate após um gol de nuca do atacante adversário – claro, o autor do gol tem que ter passado ou por aqui, ou por um rival nosso, caso contrário não é o Palmeiras (quem fez o gol do Grêmio no sábado mesmo?).
Por outro lado, só nós conseguimos, em meio a tanta turbulência, ir até a casa do nosso maior rival e despachá-los com enorme autoridade, mostrando de fato (e até mesmo de direito, não?) quem é que manda e quem mandará por aquelas bandas. Assim como o Palmeiras foi Palmeiras na suadíssima vitória contra o Fluminense, aquela que apenas nós tínhamos certeza que se o gol fosse sair, seria de forma surreal e inacreditável como realmente foi aquele lance do Cristaldo.
Essas oito rodadas iniciais foram uma amostra do que sempre foi o nosso clube – e elas mostraram que tudo é possível. Conforme dito antes, estamos há oito pontos do topo, e no domingo ficaremos a cinco, basta que vocês, atletas, acreditem.
Ontem à tarde, em um do grupo do Whatsapp, um dos amigos disse:
– Bem que esses próximos trinta jogos poderiam ser todos contra o Vasco né?
Eu digo: dá sim para ser todos contra o Vasco.
Basta o Zé Roberto se lembrar que foi o melhor da nossa Seleção em 2006 e o melhor lateral do Brasileiro do ano passado; que o Dudu se recorde que todo mundo queria ele no começo do ano; que o Gabriel e Arouca saibam que os números dizem que eles são sim os melhores volantes do país; que o Rafa entenda que quem decide clássico, decide qualquer jogo; que o Robinho apenas coloque em prática tudo aquilo que aprendeu com o maior meia do futebol nacional nos últimos anos.
Basta apenas que vocês acreditem que são os melhores do Brasil!
Toda vez que estiverem no túnel de acesso ao gramado, naquele momento em que as criancinhas te dão a mão para entrarem em campo com vocês, pensem em tudo o que passaram em suas vida para poder estar ali. Pensem nos seus colegas que ficaram para trás. Tentem imaginar como e onde vocês estariam se não tivessem recebido o dom de saber jogar futebol.
Quando entrarem no campo, olhem para as arquibancadas. Nela vocês vão enxergar vários tipos de pessoas.
Seus olhares vão encontrar o daquele torcedor que viajou horas e gastou algumas centenas de reais para poder estar ali, sofrendo e gritando por você.
Seus olhares vão encontrar o daquele torcedor que, com certeza, não almoçou ou não vai jantar, pois abriu mão da alimentação para poder comprar o ingresso e assistir ao jogo.
Seus olhares vão encontrar o daquele menino que, ao ver o seu gol, vai chegar no colégio no dia seguinte e, no primeiro gol que fizer durante o recreio, vai sair alucinado gritando “é deleee, Rafaeeeel Marqueeesss”.
Seus olhares vão encontrar o daquela criança que sequer completou quatro anos de idade, mas com certeza vai registrar aqueles momentos vividos no estádio e os levará por toda a vida, se lembrando de você e dos seus companheiros para sempre.
Vocês foram torcedores, vocês sabem o que é isso!
Não deixem de lembrar da família de vocês, das suas esposas, dos seus filhos, que torcem e veem vocês como os maiores heróis deles, ou até mesmo, para os solteiros, nas moças que vão conquistar graças à fama e o glamour que possui um jogador de futebol de alto nível, que joga em um grande clube e tem um currículo vitorioso.
Se nada disso adiantar, lembrem-se ao menos desse torcedor que ficou até as 3 da manhã pensando em como incentivá-los a buscar aquilo que todos nós palmeirenses mais queremos hoje: o título de Campeões Brasileiros.