A partida de ontem marcou um novo capítulo na série de desentendimentos entre o Palmeiras e a administração do Allianz Parque, feita pela WTorre
Após quase um mês sem mandar uma partida em casa, a última tinha sido no dia 24 de setembro, o Palmeiras voltou ao Allianz Parque nesta última quarta-feira (19) para enfrentar o Grêmio em uma partida decisiva pela Copa do Brasil. Nestes quase dois anos, o palmeirense já se acostumou com o espírito de decisão na arena. A atmosfera criada pela torcida dificulta a partida para os jogadores adversários, ao mesmo tempo que contagia os nossos dentro de campo. Contudo, uma parceria que ainda durará 28 anos e tinha tudo para ser ótima tanto para a Sociedade Esportiva Palmeiras quanto para a WTorre, responsável pela construção e administração do estádio, segue estremecida e prejudica nossos resultados dentro de campo.
Na última semana, na disputa acirrada disputa para se manter na liderança do Campeonato Brasileiro, o Palmeiras levou a partida com o Cruzeiro para Araraquara. Quase 16 mil palmeirenses estiveram na Fonte Luminosa, o Verdão empatou com o time mineiro e a vantagem para o segundo colocado da competição caiu para 1 ponto. Jogando em casa, onde já está acostumado e conta com maior pressão da torcida, o resultado seria outro? Talvez, mas jamais saberemos.
O que sabemos é que após quase um mês longe de casa e tendo um jogo importante, o Palmeiras deveria encontrar um gramado em melhores condições do que as apresentadas ontem. Perguntado após a partida, ao ser perguntado, o técnico Cuca falou sobre o tema:
“Acho um absurdo um clube como o Palmeiras ter um gramado desse. Não empatamos e fomos desclassificados por causa do gramado, mas é um time de primeira linha do Brasil. Tem que cuidar mais do gramado. Está horrível.”
Na quarta-feira do dia (12) o Allianz Parque recebeu o show do famoso tenor Andrea Bocelli, no sábado foi a vez de 45 mil pessoas irem a arena para show da banda Aerosmith. Entendemos a dificuldade de conciliar uma agenda internacional de grandes nomes da música com o complexo calendário do futebol brasileiro. O contrato firmado no início da parceria já previa prioridade para o agendamento dos shows. Caro ou não, é o preço que o clube aceitou pagar para ter o estádio mais bonito e moderno do país.
Para a administração da arena, não é bom ver o Verdão jogando em outros locais. O Allianz Parque é primeiramente um estádio de futebol, depois um espaço para shows e outros eventos. Patrocinadores e donos de camarote pagaram caro para ter seus nomes associados com a casa do Palmeiras. O palmeirense com certeza sentiria orgulho de ter o nome do clube associado a eventos de renome como estes, desde que para isso o clube não fosse prejudicado em jogos decisivos e não houvesse uma preocupação constante com o estado do gramado, mesmo após a troca do gramado no início do ano e as promessas de melhora na recuperação após os shows.
Mas o calendário e o gramado não são os únicos problemas nesta parceria. Desde 2014 o Palmeiras e a WTorre discutiam sobre a quantidade de cadeiras disponíveis para comercialização da construtora. O assunto a Câmara FGV de Conciliação e Arbitragem pois o clube entendia que a construtora tinha direito de comercializar 10 mil das 44 mil cadeiras, enquanto a WTorre acreditava que seria responsável pelo total de cadeiras da arena. O Verdão venceu a disputa, mas, de acordo com o presidente Paulo Nobre:
“Caso a interpretação não fosse para o Palmeiras, mas para a parceira, seria um desastre para a Sociedade Esportiva Palmeiras. As próximas três décadas seriam comprometidas financeiramente” disse o dirigente alviverde.
Paulo Nobre inclusive foi pivô de uma polêmica com a construtora há pouco tempo. Na partida entre Palmeiras e Flamengo, cercada de tensão dentro e fora de campo pela importância no Brasileiro e também pela punição do STJD que proibia torcedores do time visitante, o presidente expulsou de forma energética um torcedor flamenguista que estava em um camarote próximo ao do clube. A atitude foi duramente criticada pela administração do estádio, que defendeu o direito de quem pagou para utilizar o espaço do camarote. De ambos os lados, o problema claramente poderia ter sido resolvido de outra forma para não criar mais desgastes, mas esta não parece ser a preocupação.
O episódio levou a administração do estádio a instalar uma câmera de segurança no camarote do Palmeiras, com o intuito de registrar novos problemas. A solução encontrada pelo clube? Ontem, antes da partida com o Grêmio, um funcionário do clube cobriu a câmera com uma fita adesiva. A ação, com imagens em vídeo, foi rapidamente divulgada pela administração para os veículos de imprensa. Imagens das câmeras de segurança, que poderiam ter sido utilizada para mostrar o comportamento dos dirigentes flamenguistas no camarote na partida com o Flamengo, não apareceram e o clube foi punido com pagamento de multa pelo STJD.
Esse relacionamento conflituoso entre clube e construtora afeta até o que poderiam ser ações positivas para o torcedor. Os copos comemorativos preparados para a decisão de ontem foram motivo para novo problema. A torcida gostou da iniciativa, era fácil ver palmeirenses os copos, vendidos por R$ 10 dentro do Allianz Parque. Mas, de acordo com uma fonte do clube, a ação não foi aprovada pelo Palmeiras, que pode buscar seus direitos na justiça. O clube reclama que se trata de uma exploração comercial não autorizada de seu símbolo, ou seja, um produto pirata feito pela própria casa palestrina. Ao mesmo tempo que é importante lembrar que existem empresas que pagam caro para poder ter exclusividade em produtos do clube, será que é tão difícil alinhar uma ação assim entre as duas partes e oferecer uma experiência cada vez melhor ao torcedor?
Este texto não tem pretensão nenhuma dar uma solução a todos estes conflitos, defendemos e defenderemos sempre os interesses do Palmeiras, mas o que fica claro é que algo precisa ser feito com urgência. A WTorre pode ter muito a lucrar tendo a incrível torcida palmeirense ao seu lado, esse é o significado de parceria. Não podemos querer seguir em frente desta forma, arrastando os pés pelos próximos 28 anos.
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