A estreia em casa na Libertadores é mais que um simples jogo, é uma forma de alimentar sonhos. Ou, eventualmente, pesadelos.
Carlos Massari
Colunista da Mídia Palmeirense
A estreia em casa na Libertadores é mais que um simples jogo, é uma forma de alimentar sonhos. Ou, eventualmente, pesadelos.Serve como um presságio do que está por vir, como um olhar para qual será a capacidade do time de mexer com a torcida, de enfrentar os adversários, de se colocar dentro dos campos de batalha da América do Sul em posição de vencer ou de apenas fazer figuração. O Allianz Parque deve se tornar muito mais que um caldeirão nessa quarta-feira para receber um Palmeiras que provavelmente nunca – nem mesmo em 1999 – entrou com tamanho favoritismo no torneio continental.
Podemos ilustrar o ponto da estreia como presságio por duas participações recentes do Palmeiras no torneio continental – 2013 e 2016. No primeiro, com o time rebaixado e desacreditado, vindo de humilhações nos bastidores, com a bizarra troca do argentino Hernán Barcos por quatro refugos do Grêmio, tínhamos uma equipe voluntariosa. Deixava o que podia dentro de campo, mas não tinha a capacidade técnica de ir longe. Contra o Sporting Cristal, do Peru, o duelo ilustrou justamente isso: faríamos um papel digno pela capacidade do elenco montado, mas precisaríamos de um milagre de todos os santos alviverdes para aspirar algo maior. Weldinho, Caio Mancha, Ronny, João Denoni e o autor do gol da vitória, Patrick Vieira, são alguns dos nomes que trajaram nosso manto naquela noite.
Em 2016, já podendo usufruir da imponência do Allianz Parque, entramos com um elenco capaz de vencer, mas uma desorganização técnica ímpar. O sofrimento diante do Rosario Central mostrou que não haveria como avançar se Marcelo Oliveira não fosse imediatamente demitido.
Pela má vontade do deus do futebol, o Palmeiras venceu o jogo que precisava ter perdido. Massacrado impiedosamente pelo escrete argentino durante noventa minutos, sem esboçar reação, achou dois gols inexplicáveis com os estrangeiros Cristaldo e Allione para assumir a liderança do grupo de forma violentamente ilusória. A sorte que existira naquela noite não voltaria a colaborar, a demissão de Oliveira viria de forma muito tardia e duas derrotas seguidas para o Nacional de Montevidéu praticamente selaram a eliminação na primeira fase.
Hoje, ao contrário de 2013 e 2016, o Palmeiras entra praticamente como o Senhor das Américas. Confiança em alta depois de passear no choque-rei mesmo com time misto. A tranquilidade de saber que tem o melhor elenco da competição e, principalmente, que ele está se encaixando e começando a jogar o que pode – mesmo na estreia da Libertadores, contra o Atletico Tucumán e um clima muito hostil, na quarta-feira passada, a vitória poderia ter vindo, apesar do destempero de Vitor Hugo.
Nosso adversário, o Jorge Wilstermann, vive um momento de deslumbre. Sem muita tradição continental, aplicou sonoros 6 a 2 sobre o Peñarol na estreia. Contribuiram os fatores arbitragem e altitude, mas não deixa de ser um resultado louvável. Podendo jogar uma Libertadores pela primeira vez desde 2011, a equipe de Cochabamba rasgou elogios ao estádio do Palmeiras e também tem a confiança em alta.
Mas a diferença técnica é absurda e não existe o fator altitude. A estreia em casa de 2017, como se as estrelas estivessem alinhadas no momento do sorteio para corroborar a teoria de que o primeiro jogo é um presságio, deve ser de uma tranquilidade jamais vista. A Bolívia é o elo mais fraco do futebol sul-americano e suas equipes costumam ser goleadas quando vem jogar por aqui. A dúvida que resta é qual será o placar desse passeio.
Falamos sobre tantas estreias, mas faltou justamente a mais importante: 1999. O que ela nos reservou? Sofrimento vitorioso. Contra nosso arqui-rival, vencemos por 1 a 0 em um jogo dificílimo. Se você já acompanhava o Palmeiras naquela época, sabe que essa foi a síntese da campanha do título. Duas decisões por pênaltis, o surgimento de São Marcos, a final mais cardíaca de todos os tempos, um time que parecia só acordar quando se via atrás no placar.
Por isso, que um passeio hoje nos traga a imagem de uma Libertadores não tão cheia de problemas. Afinal, estamos todos mais velhos que 18 anos atrás e não temos mais a condição cardíaca de sofrer tanto.
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