A trajetória do Palmeiras na Copa Libertadores é marcante e o jogo no estádio Campeón del Siglo, em Montevidéu-URU merece destaque especial
Carlos Massari (@carlosmidiasep)
Colunista da Mídia Palmeirense
Quatro jogos e já teve empate arrancado fora de casa com um a menos desde o primeiro tempo. Já teve retranca vencida nos acréscimos. Já teve virada dentro de casa também vinda no tempo extra. Já teve recuperação extraordinária fora de casa depois de um primeiro tempo péssimo. Já teve porrada. Já teve seguranças salvando os jogadores. Já teve tapa na cara de uruguaio – por legítima defesa, diga-se.
Essa é a Libertadores da emoção. Se a competição continental é normalmente pegada, tensa e sofrida, a edição 2017 parece estar tentando sintetizar tudo isso para o Palmeiras. Mostrar que só dinheiro não garante nada, que é preciso coração.
E se faltou coração no jogo de ida contra a Ponte Preta, no Paulistão, e no primeiro tempo da batalha de Montevidéu, ele tem sobrado nos demais momentos. Na pressão para garantir as vitórias dentro de casa em jogos nos quais a bola teimou em não entrar, na capacidade de voltar para campo perdendo por 2 a 0 e virar a partida em terreno hostil, na hora de lutar por sobrevivência, como uma presa acuada diante de muitos predadores, para evitar uma tragédia causada pela falta de espírito esportivo do Peñarol. O elenco multi-milionário alviverde vai aos poucos provando que pode sim deixar seu sangue dentro de campo – em sentidos positivos e negativos.
Felipe Melo representa hoje o coração palmeirense. Dentro de campo, em cada carrinho preciso, em cada desarme, em cada bola salva em momento decisivo. Fora de campo, com a liderança de um veterano que já rodou o mundo, que já foi respeitado e esculachado, que já sentiu o sabor de estar no topo do mundo e no fundo do poço.
Quem não se lembra da Copa do Mundo de 2010? Honestamente, eu sabia que a seleção brasileira acabaria eliminada pelo descontrole de Felipe Melo. Falei isso para pessoas próximas. Já era um atleta técnico, mas ainda sem controle emocional. Deixava que o coração o levasse não para a raça e o amor à camisa, mas à violência e desordem. Quando a expulsão derradeira contra a Holanda, em partida decisiva, veio, eu não fiquei nada surpreso – e imagino que boa parte da população brasileira também não.
Hoje, porém, eu não tenho medo de que eventuais descontroles possam acontecer com Felipe Melo. Jogo após jogo, ele tem se mostrado apenas uma liderança positiva. Quando leva cartão amarelo no início de um jogo, tem a consciência de sempre se lembrar dele e saber que não pode fazer outra falta dura. O posicionamento melhora a cada dia. A influência sobre os jovens é clara. Ter um atleta desse nível e com essa experiência em campo é fundamental para o sucesso na Libertadores. Ainda mais, da forma que a competição continental tem se apresentado para o Palmeiras em 2017.
Quatro jogos se foram. Faltam dez para o título. O que pode acontecer nesse tempo? Mais quantos palmeirenses precisarão sofrer ataques cardíacos? Quantos gols nos acréscimos, quantas bolas na trave, quantos lances inacreditáveis? O que ainda falta acontecer? Uma invasão de ornitorrincos no meio de uma partida? Um pouso de uma nave extraterrestre? A torcida adversária efetivamente invadindo o campo e tentando fazer um duelo de milhares contra onze?
Essa é a Libertadores da emoção. Em cada campo, a cada noventa minutos, o Palmeiras sairá transformado. Sairá mais forte, mais cascudo. Felipe Melo é o líder disso tudo, é o homem que tem a experiência do fracasso sob seus braços e que conhece os caminhos necessários para a glória. Muitos espinhos ainda surgirão, mas seja no coração – e que ele não desapareça nunca mais – ou seja na técnica, a cada dia parece mais que temos o que é necessário para levantar esse troféu.
Agora, vamos nos acalmar. Respirar, dormir, relaxar por uma semana. Quarta que vem a batalha é na Bolívia. O exército alviverde, com seu general Felipe Melo, testará nossos corações mais uma vez.