O Palmeiras comemora nesta sexta-feira (21) exatos 100 anos do dia em que pisou pela primeira vez no campo que, mais tarde, viria a se tornar a sua casa
21 de abril de 2017 marca o centenário do palco de glórias históricas, goleadas marcantes (como os 8 a 0 sobre o Corinthians em 1933) e títulos emblemáticos (o principal deles, a Libertadores de 1999).
Foi em 21/04/1917 que o Parque Antártica, principal praça esportiva da época, recebeu um confronto válido pelo Campeonato Paulista entre Palestra Italia e Internacional da Capital. O jogo, que marcaria a primeira vitória palestrina no local, terminou com goleada por 5 a 1, com tentos de Caetano e Heitor (quatro vezes). O primeiro gol alviverde no Parque Antártica fora assinalado por Caetano Izzo, que, curiosamente, foi o mesmo jogador que anotou o primeiro tento do clube sobre o Corinthians – fato ocorrido no primeiro derby da história, disputado em 06/05/1917, quando o Verdão bateu o maior rival por 3 a 0 com direito a hat-trick do atacante.
Já a chuva de gols imposta por Heitor naquela partida ante o Inter foi apenas a primeira façanha das muitas que o atacante ainda alcançaria naquele gramado. Além de ser o maior artilheiro do Verdão até a atualidade (310 gols em 360 jogos), Heitor é o jogador que mais vezes balançou as redes dos rivais no Parque Antártica, acumulando 175 gols no estádio.
Aliás, o único jogador a marcar seis vezes em um único jogo pelo Palmeiras foi o próprio Heitor – em duas oportunidades, ambas no Parque Antártica. Uma delas, ironicamente, contra o mesmo Internacional enfrentado na partida que marcou o debute do Verdão no estádio. Naquela ocasião, os gols do artilheiro palestrino ajudaram o time a sair vitorioso por 11 a 0. O fato aconteceu em 1920, em uma das partidas válidas pela campanha que coroou o primeiro título da história do Palmeiras, o Campeonato Paulista daquele ano. De todas as vezes em que enfrentou o Inter da Capital, Heitor jamais sofreu um revés sequer: foram 14 jogos (13 vitórias e um empate) e 5 gols marcados – média de 1,7 por jogo.
Ao contrário do que muitos pensam, a história do Parque Antártica começa a ser contada muito antes da própria fundação do Verdão, em 1914. Considerado um grande centro de convenções paulistano, o espaço era aberto ao público desde o final do Século XIX, época em que pertencia à Companhia Antárctica Paulista e era utilizado como ponto de encontro para piqueniques e atividades campestres, além de contar com uma cervejaria, parque infantil, pista de patinação, espaço para bailes e de ser o local de pouso e de decolagem dos raríssimos aviões. Vale destacar que o campo de futebol presente no local era apenas um dos atrativos.
Anfitrião do primeiro jogo da história do Campeonato Paulista, um duelo entre Germânia e Mackenzie em 1902, o Parque Antártica pode ser apontado como o campo que recebeu o primeiro jogo oficial de futebol do Brasil, já que o Paulistão fora o primeiro torneio a ser disputado dentre todos os estaduais do país.
Poucos anos após a fundação do time, os dirigentes do Palestra Italia viram no Parque Antártica “a casa dos sonhos” para o futuro do clube. Inicialmente cedido ao Germânia (atual Pinheiros), o estádio não demorou a mudar de arrendatário. Isso devido às consequências da crise financeira do clube de raízes alemãs, causada pela Primeira Guerra Mundial. O América da Capital, à época ainda em formação, passou então a ser o locatário do campo. O clube, no entanto, não podia arcar com as despesas de aluguel sozinho, e o Palestra, que já levava grande público a seus jogos, interessou-se pelo local.
Em 1917, por intermédio do América, foi feito o contrato de aluguel do campo por 500 mil réis por mês para as duas equipes. E foi assim que o Palestra Italia se instalou no tradicional local. O América, à beira da falência, não demorou a desaparecer, e o contrato, a partir daí, passou a ser direto entre o Palestra e a Antártica.
Como arrendatário, o Palestra mandou os seus jogos no Parque Antártica até abril de 1920. Isso a partir de 1919, pois entre 1917 e 1918 o time alviverde havia sido um mero visitante, já que os mandos de jogos pertenciam à APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos), atual FPF (Federação Paulista de Futebol).
Finalmente, em 27/04/1920 – três anos após jogar pela primeira vez no estádio –, a diretoria do Palestra Italia chancelou a compra do Parque Antártica: e não só o campo que fazia parte do complexo, mas, sim, todo o território que compreendia o “Parque dos Sonhos”. Devido ao alto investimento para os padrões do período, o episódio da compra do terreno ficou conhecido como “A Loucura do Século” – ainda mais em se tratando de um clube com apenas cinco anos de existência e que ainda tinha o seu futuro visto como uma incógnita no meio desportivo.
Os números comprovam a superioridade da equipe palestrina no Parque Antártica mesmo antes de se tornar o proprietário: entre abril de 1917 – quando jogou pela primeira vez no campo – e abril de 1920, quando se tornou proprietário, foram 22 partidas (14 vitórias, quatro empates e quatro derrotas), 56 gols marcados e 29 sofridos.
Ao longo de quase 100 anos, o estádio passou por algumas fases que ficaram marcadas por diferentes mudanças em sua estrutura física e que hoje dá lugar ao Allianz Parque, inaugurado em 2014 e que representa um dos maiores motivos de orgulho do torcedor palmeirense.
Primeira grande reforma: cimento armado
Após adquirir o estádio em 1920, o Palestra Italia reformou e melhorou o visual de sua casa nos anos 30. À época, a reforma foi tão bem vista que fez do campo do Verdão o principal palco de eventos esportivos da cidade de São Paulo até o surgimento do Pacaembu, em 1940.
As velhas pranchetas de madeira das décadas de 10 e 20 deram lugar a modernas arquibancadas de cimento armado. As novas arquibancadas eram retas e ficavam de frente uma para a outra, estando o campo de futebol localizado entre elas duas.
O jogo que marcou o debute do novo visual do estádio aconteceu em 1933: o Palestra Italia goleou o Bangu-RJ por 6 a 0, em partida válida pelo Torneio Rio-São Paulo.
Segunda grande reforma: Jardim Suspenso
Chegou a década de 60 e, com ela, mais uma era vencedora na história do Verdão. Além dos títulos, o Palmeiras pôde contar também com um estádio que possuía características pouco comuns em relação às dos outros estádios: havia sido construída uma meia-lua de arquibancada, em forma de ferradura, ligando as duas arquibancadas rentes, e o campo de futebol fora elevado cerca de três metros em comparação ao nível do solo, formando uma espécie de fosso ao seu redor.
O derradeiro jogo disputado no estádio antes desta reforma, que ocorreu durante a primeira metade da década de 60, havia sido diante do Jabaquara, em 17/12/1961. E o jogo que inaugurou o elegante Jardim Suspenso, como ficou conhecido, foi o embate entre Palmeiras e Esportiva Guaratinguetá-SP, em 07/09/1964, do qual o Alviverde saiu vitorioso por 2 a 0.
O visual que a casa palmeirense ganhou em 1964 ficou marcado até 2010, ano do fechamento do estádio para o início das obras que dariam origem ao Allianz Parque. Entre este período de 1964 a 2010, portanto, poucas mudanças aconteceram em sua estrutura física.
Terceira grande reforma: Allianz Parque
Quatro anos separaram a torcida palmeirense de sua casa. O último jogo no velho Palestra havia sido em 09/07/2010, um amistoso entre Palmeiras e Boca Juniors. A última partida válida por competições oficiais, porém, acontecera em 22/05/2010, uma vitória sobre Grêmio por 4 a 2 pelo Campeonato Brasileiro.
Desde que abriu as portas em 2014, no jogo ante o Sport, pelo Brasileirão, o Allianz Parque recebeu um total de 74 jogos do Palmeiras: o Verdão venceu 49 vezes, empatou 13 e perdeu 12. Marcou um total de 136 gols e sofreu 59. Se computados os jogos desde 1917, a equipe alviverde acumula um total de 1649 atuações (1116V, 332E e 201D). Marcou 3840 gols e sofreu 1550.
FICHA TÉCNICA
Palestra Italia 5 x 1 Internacional-SP
Data: 21/04/1917
Competição: Campeonato Paulista
Local: Parque Antártica, São Paulo (SP)
Público/renda: Não disponíveis
Gols do Palestra Italia: Caetano e Heitor (4)
Gol do Internacional: Cruz
Palestra Italia: Flosi, Bianco, Grimaldi, Picagli, Bertolini, Arturo Fabbi, Caetano, Ministro, Heitor, Orlando e Martinelli. Técnico: Ludovicco Bacchiani.
Internacional-SP: Barreto, Felix, Zeca, Alimare, Joaquim, Gustavo, Almeida, Rodrigues, Cruz, Janeiro e Idoeta. Técnico: Não disponível.
TÍTULOS NO PARQUE ANTÁRTICA
1926 – Campeonato Paulista
1926 – Campeonato Paulista Extra
1926 – Taça Competência
1927 – Torneio Início do Campeonato Paulista
1927 – Taça Competência
1933 – Campeonato Paulista
1933 – Torneio Rio-São Paulo
1936 – Campeonato Paulista
1938 – Campeonato Paulista Extra
1939 – Torneio Início do Campeonato Paulista
1969 – Torneio Início do Campeonato Paulista
1976 – Campeonato Paulista
1996 – Campeonato Paulista
1998 – Copa Mercosul
1999 – Copa Libertadores da América
2008 – Campeonato Paulista
2015 – Copa do Brasil
2016 – Campeonato Brasileiro
RECORDES NO PARQUE ANTÁRTICA
– Jogador que mais fez gols em uma única partida: Heitor, seis vezes – em duas oportunidades (08/08/1920 e 17/07/1927);
– Recorde de invencibilidade do time: 68 jogos (entre 23/02/1986 e 02/09/1990) *todos jogos oficiais [recorde brasileiro];
– Sequência de vitórias: 17 triunfos (entre 31/08/1952 e 28/11/1954);
– Jogador com maior invencibilidade: Ademir da Guia, 61 jogos (entre 28/04/1971 e 20/03/1975);
– Jogador que mais atuou: Marcos, 2011 jogos;
– Jogador que mais fez gols: Heitor, 175 tentos;
– Público recorde: 40.986 pessoas (Palmeiras 1×0 Chapecoense, 27/11/2016);
– Renda recorde: R$ 4.171.317,26 (Palmeiras 1×0 Chapecoense, 27/11/2016);- Jogos seguidos sem ser vazado: 12 partidas (entre 11/12/1988 e 04/03/1990);
– Jogos seguidos fazendo gols: 63 partidas (entre 07/10/1946 e 14/11/1956).
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