Com chegada discreta, o zagueiro colombiano surpreendeu e cativou toda a torcida palestrina, que aproveita seu futebol enquanto pode
Carlos Massari (@carlosmidiasep)
Colunista da Mídia Palmeirense
Ele avança com a bola de forma elegante, em passadas largas e seguras. Olha à sua volta, procura o jogador desmarcado. Faz o passe preciso. Continua correndo até a grande área, buscando o posicionamento ideal para finalizar. Normalmente, consegue. Após colocar mais uma vez a bola no fundo da rede, dança em seu próprio ritmo, que é pura latinidade e malemolência.
Se você não tivesse assistido nenhum jogo do Palmeiras no último ano, não acreditaria que estamos falando de um zagueiro.
Yerry Mina chegou desconhecido, vindo da Colômbia sem muito alarde. Suas credenciais eram boas: disputado pelo Barcelona e outros grandes europeus, desembarcou no Palmeiras pela singular habilidade de negociação de Alexandre Mattos. Quando entrou em campo pela primeira vez, percebemos que estávamos diante de algo diferenciado. De um dos melhores defensores desse planeta, de um atleta capaz de ser ao mesmo tempo uma parede defensiva, um armador técnico e um finalizador implacável.
É no seu raro controle de bola que impõe a sua presença. Quando zagueiros ameaçam arrancar, a torcida imediatamente dá um gole na cerveja e fecha os olhos esperando pelo pior. Não com Yerry Mina. Sabemos que algo de positivo vai sair dali. Suas pernas cobrem a distância entre os polos terrestres em fração de segundos. Como um guepardo em busca de sua presa, ele as move, sem esquecer da esfera à sua frente. No campo de ataque, se transforma. Tira a roupa suja do responsável pelo trabalho duro da parte de trás do gramado e veste um terno de alta costura, dominando a arte de passar a bola.
Dentro da área, pula para cabecear a bola e lembra Dadá Maravilha, parando no ar como o beija-flor. Ou, pelo chão, apenas toca sutilmente, sabendo que o destino final deve ser o fundo do gol. Não há adversário que possa estar tranquilo no momento de defender sua meta quando sabe que Yerry Mina está por perto. Porque a bola o encontrará, e se isso acontecer, não haverá felicidade no dia dos pobres homens que não vestem verde.
Pouco depois da rede estufar, a alegria se dissipa em movimentos. Ele não é exatamente um bailarino clássico, mas nem deveria ser. Sabe que é latino-americano, que é do lado de baixo da Terra, que tem nas suas veias o sangue de ancestrais que viviam em terras africanas. Assim, dança como quem estivesse em um ritual no continente que originou a vida humana, em volta da fogueira, junto com seus antepassados. Que, muitos séculos atrás, felizes em seu reino, devem ter profetizado a existência de um mestre da arte que colocaria vinte e duas pessoas se opondo em equipes de onze dentro de um retângulo.
O Palmeiras precisa aproveitar enquanto pode desfrutar de Yerry Mina. Se o futebol fosse justo, o colombiano vestiria verde para sempre. Estaria uma vez por semana enchendo nossos olhos no Allianz Parque pelos próximos cem anos. Mas não é assim que funciona. Logo, ele estará em Barcelona, ou em Manchester, ou em Madrid, desfilando sua habilidade pelos estádios de times que possuem maior capacidade financeira. Tudo será mais fácil para ele, tendo outros grandes craques do futebol mundial ao seu lado e enfrentando os Granadas e Getafes da vida. Mas ainda nos fará torcer pela Colômbia quando ela pisar nos gramados russos em 2018.
Mas agradeçamos a Alexandre Mattos: Esse zagueiro incrível veste o nosso manto, apesar de não sabermos ainda por quanto tempo. Aproveitemos. E que ele nos ajude a levantar mais troféus.