Nessa quarta-feira, contra o Internacional, Cuca decidiu inspirar-se em um dos movimentos artísticos mais importantes do século 20: o surrealismo
Carlos Massari (@carlosmidiasep)
Colunista da Mídia Palmeirense
Nosso treinador olhou as pinturas de Salvador Dalí, assistiu aos filmes de Luis Buñuel, apreciou as fotografias de Man Ray. Decidiu aplicar no time do Palmeiras tudo aquilo que os artistas geniais fizeram.
Começou a partida sem nenhum meia criativo, mas isso era só uma pitada do que estaria por vir. Yerry Mina seria centro-avante. Felipe Melo, zagueiro. Tchê Tchê assumiria a função de armar o time. Ainda passaria involuntariamente pela emoção de perder o melhor jogador do time, Dudu, por uma lesão, e de ter um árbitro que se esqueceu da existência de infrações cometidas dentro da grande área, popularmente conhecidas como pênaltis.
A classificação veio. Afinal, nada de ruim pode sair do surrealismo. Você pode não entender bem o que está acontecendo, nem saber o que aquilo quer dizer, mas certamente fica impressionado pela qualidade das obras. Vamos fazer de conta que foi exatamente isso que aconteceu com o Palmeiras – avançou devido à inovação e à mudança radical do que foi apresentado, uma quebra com a tática convencional futebolística. Enganou perfeitamente ao Internacional, que esperando que se classificaria após abrir 2 a 0, foi surpreendido por um gol do acaso, mais um acontecimento de difícil compreensão.
Não sei se para o futebol o surrealismo é indicado. Nos fez ao mesmo tempo felizes e muito preocupados em uma noite de quarta-feira, é verdade. Comemoramos mais uma classificação, continuamos vivos em todas as competições importantes do ano e não passamos pelo vexame de sermos eliminados por um rival da segunda divisão. Mas que tenha ficado por aí: voltemos ao realismo e deixemos as vanguardas para as artes.
Cuca sabe que a exibição não foi ideal. Nós sabemos muito bem da capacidade do treinador que nos fez erguer o troféu de campeão brasileiro de 2016. Ele deve trabalhar para reorganizar as peças, recolocá-las em seu lugar e reencontrar o futebol deixado no tempo. Quase na metade do ano, o Palmeiras ainda não foi convincente. Confiamos nas vitórias mais por confiarmos no atual técnico e no elenco do que pelo que o histórico recente apresenta.
Faltam treinos para esboçar no papel um time vencedor. As ideias tem que vir do dia-a-dia, do que é visto em campo, de conversas e de entendimentos. A rotina de jogos no calendário brasileiro chega a ser absurda, forçando o surgimento de ideias que não tem a desenvoltura necessária e obrigam o cronista a fazer comparações com o surrealismo.
Mas por favor, Cuca, escale armadores. Não use tantos volantes povoando o meio-campo. Deixe Felipe Melo na sua posição de origem. Yerry Mina é ótimo para marcar gols, mas comandando o ataque, só em situações de desespero. Você sabe que pode tirar o melhor desse elenco, e nós sabemos disso também. Deixe o surrealismo para Dali, Buñuel, Ray e tantos outros. Faça o quadro verde ser bonito, elegante, vertical, acachapante, glorioso. E de entendimento acessível para os amantes do futebol. E que não nos faça sofrer tanto a cada duelo.
Já é domingo o próximo compromisso. Mais um adversário forte estará do outro lado e provavelmente não teremos Alejandro Guerra e Dudu. Mas ainda somos o Palmeiras. Ainda somos o maior time desse país. E ainda entraremos em campo para vencer.