Miguel Angel Borja, matador e decisivo na Colômbia, é o nosso camisa 9. Ninguém desaprende a jogar futebol em seis meses.
Carlos Massari (@carlosmidiasep)
Colunista da Mídia Palmeirense
Portanto, ao fazer a transação milionária que trouxe Miguel Borja do Atlético Nacional, ou adquirimos um grande goleador, capaz de frequentemente afundar as redes adversárias, ou um irmão gêmeo perdido que não sabe exatamente o que está fazendo dentro de campo. Como a segunda hipótese é absurda, eu sinceramente acredito na primeira.
Aos poucos, Borja vai se encaixando no estilo futebolístico aplicado no Brasil. Parece que talvez na Colômbia não precisasse correr tanto, brigar pela bola na parte final do campo, participar do sistema de marcação. A sua dificuldade de adaptação não é na hora de finalizar ou de marcar sua presença dentro da grande área, mas sim para cumprir uma função tática mais detalhada.
No último domingo, o Palmeiras fez sua melhor partida ofensiva em 2017 diante do Bahia. Nela, no momento defensivo, Guerra ficava à frente, atuando como homem mais avançado, e Willian voltava para marcar. O venezuelano constantemente era poupado ou entrava no segundo tempo durante seu tempo no mesmo Atlético Nacional, e também tem problemas para fazer parte de forma mais aplicada do sistema de marcação. Ao dar a ele essa função mais simples, Cuca preserva seu físico, já que se trata de um jogador que tem uma técnica muito acima da média.
É por isso que Willian segue sendo titular, e não Borja. Sua presença faz com que Guerra renda mais e protege melhor a defesa. O que o colombiano precisa para ganhar sua vaga de volta não é marcar gols, é conseguir fazer a mesma função com qualidade.
E ele ainda não consegue. Vem evoluindo, sim: participou da partida dessa quarta-feira, contra o Atlético Goianiense, muitas vezes fora da área, buscando o jogo, dando alguns passes eficientes. Correu e batalhou mais do que nas suas primeiras partidas. Fez um gol típico do centro-avante que é e que nos deu o triunfo. Só que o esquema usado ainda foi um que não permite a Guerra tanta liberdade, e por isso o sistema ofensivo sofreu mais para criar que contra o Bahia.
Cuca é um treinador de altíssimo nível e recebeu uma situação caótica de Eduardo Baptista. O que ele vem fazendo nas últimas partidas para trazer essa clara evolução ao desempenho alviverde é encontrar como suas peças possam render da melhor forma possível. Roger Guedes se reabilitou completamente e quase pode ser chamado novamente de Reus Guedes, Jean e Tchê Tchê vão melhorando aos poucos, Keno demonstra ter nível para vestir o nosso manto. O que falta, agora, é encontrar uma forma de fazer com que Guerra e Borja possam render em alto nível juntos.
Ninguém desaprende a jogar futebol em seis meses. Borja não desaprendeu. Suas qualidades seguem ali, esperando o momento de desabrochar. Ele passa por um momento difícil de adaptação e não há dúvidas que isso abalou seu lado psicológico. Mas existe a vontade de se encontrar. De aprender como é o futebol brasileiro, da necessidade de marcar, de dar combate, de participar da transição defensiva. Enquanto isso não acontecer, continuará sendo preterido pelo inferior tecnicamente Willian, mas deixará seus gols quando tiver a oportunidade de estar em campo.
Infelizmente, nós perdemos quatro meses de 2017 com o trabalho ruim de Baptista. O Palmeiras poderia estar jogando em março o que joga hoje. Mas confio muito em Cuca, confio em Borja e confio em quem teve momentos ruins no ano. A torcida é para que todas as peças se encaixem até que os momentos mais importantes da Libertadores cheguem.
Talvez a peça final do quebra-cabeças seja entender como Guerra e Borja possam jogar juntos em alto nível noventa minutos no estilo e na intensidade do futebol brasileiro. Contra o Atlético Goianiense, foi um passo em direção ao sucesso. Que eles continuem sendo dados.
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