Com um primeiro tempo para se esquecer e um segundo para se eternizar, Verdão mostrou a sua força e igualou o marcador diante dos mineiros
Carlos Massari (@carlosmidiasep)
Colunista da Mídia Palmeirense
Cuca errou na escalação inicial para o duelo contra o Cruzeiro. Fabiano e Zé Roberto, ambos muito lentos, não podem formar uma dupla de laterais, ainda mais contra um rival que vem ao Allianz Parque todo fechado e visando os contra-ataques. Erros de posicionamento e de recomposição defensiva ajudaram muito os mineiros a alcançar os três gols que faziam parecer impossível a sequência do alviverde imponente na Copa do Brasil, mas eles também foram amplificados pelo equívoco na escolha dos onze que foram ao gramado.
Já havíamos visto esse filme em 2017: Eduardo Baptista, contra a Ponte Preta na semi-final do Paulistão, enviou a campo uma formação equivocada e uma equipe que parecia sem alma. Naquele dia, saímos para o intervalo com exatamente a mesma desvantagem: 3 a 0.
Para buscar os resultados após esses primeiros tempos, duas coisas eram necessárias: mudança de postura e correção das falhas táticas (que passavam principalmente pelas laterais). A diferença de qualidade entre Cuca e Eduardo Baptista aparece pelo fato de um deles ter conseguido alcançar essas metas e o outro não.
Naquela fatídica tarde de dezesseis de abril, Eduardo Baptista usou suas três alterações sem modificar sentidos táticos: Michel Bastos entrou na vaga de Guerra, Alecsandro na de Borja e Róger Guedes na de Willian. O brio do time continuou exatamente o mesmo e não apenas não criamos nada para modificar o placar, como chegamos perto de sofrer mais gols. Uma das principais críticas ao atual treinador do Atlético Paranaense era sua incapacidade de reinventar a equipe no decorrer de uma partida.
Ontem, logo na primeira etapa Cuca já reconheceu o problema existente nas laterais. Com isso, tirou Fabiano e colocou Egídio, passando Tchê Tchê para a lateral direita e Zé Roberto para o meio. Não correu mais riscos defensivos. No intervalo, veio o incêndio na postura da equipe. Borja entrou muito bem no time, substituindo o lesionado Guerra, e o sufoco imposto ao Cruzeiro trouxe o empate em apenas vinte minutos.
Se alguém tinha dúvidas da superioridade do nosso treinador em relação ao antecessor, a comparação entre esses dois cotejos deixa tudo bastante claro.
É necessário entender o que essa partida surreal significa. Primeiro, que não há mais espaço para erros. Há experimentos que já foram feitos, que sabemos que não funcionam. Borja precisa ser usado com mais frequência. O sistema defensivo precisa ser recomposto com mais organização.
Se errarmos dessa forma na Libertadores, talvez não haja tempo para a recuperação. Os times são melhores, o clima é de guerra, a aplicação é diferenciada. Cuca deve armar a equipe com mais cuidado e acredito que o fará, principalmente por possuir bem mais opções no elenco.
Mas, por outro lado, se tivermos o brio do segundo tempo na competição continental, ninguém poderá nos segurar. Foram vinte minutos completamente implacáveis, de sufoco puro, de tática e de técnica, de coração. Vinte minutos de um caldeirão fervendo no Allianz Parque, de um elenco que é o melhor do país juntando toda essa qualidade à raça que costuma fazer os campeões continentais. Ficamos com a impressão que, dentro da nossa casa, podemos reverter qualquer placar contra qualquer time.
Foi um primeiro tempo para se esquecer e um segundo para se eternizar. Lembramos das nossas falhas e dos nossos problemas, mas também vimos nossas virtudes serem exaltadas. A Libertadores, nossa prioridade absoluta, estará à nossa frente na próxima semana. Que recordemos essa segunda etapa e possamos repetir, dentro de campo e na cabeça do treinador, tudo de bom que ela teve.