Jailson, de torcedor a jogador!
Sabe aquele menino do Jardim Satélite, em São José dos Campos (SP), que ficava o dia inteiro na rua correndo e pulando atrás da bola? Aquele que andava para lá e para cá com uma camisa surrada do Palmeiras? O mesmo que, aos fins de semana, ajudava o pai a colocar as tralhas no carro e ia pescar todo animado? Aquele menino virou jogador profissional. Conseguiu se sagrar campeão brasileiro e disputar uma Copa Libertadores. E o melhor: tudo isso com a camisa do time do coração. Até parece história de pescador, mas esta é a verdadeira trajetória do goleiro palmeirense Jailson Marcelino dos Santos.
“Sou um cara abençoado. Se contar a minha vida para alguém que não acompanha muito futebol, a pessoa não vai acreditar. Não tive categoria de base, comecei tarde no futebol, dei uma rodada, estive no Nordeste, no Sul… hoje, eu jogo no meu time de infância”, diz o goleiro, de 36 anos. “E ainda quero muito mais. Meu objetivo é conquistar outros títulos e ver mais fotos minhas nas paredes do centro de excelência”, afirma, referindo-se às imagens de grandes jogadores do Verdão que decoram o hotel onde o elenco profissional se concentra para os jogos.
Ajuda da vó
O primeiro clube do camisa 14 do Alviverde foi o Joseense, em 2000, quando tinha 19 anos. Após convite, fez um teste com cinco amigos. Para chegar ao campo onde se realizaria a peneira, o sexteto teve de se revezar nas bicicletas. Só Jailson passou.
Para perseguir o sonho de se tornar jogador profissional, porém, ele precisou da ajuda da avó, Nacife. “Para ir aos treinos, ela tirava o dinheiro do passe de ônibus dela. Eu ia até um ponto, no Jardim Colinas, e ainda caminhava mais 4 km. Ganhava R$ 100 por mês e dava R$ 50 para a minha vó, que tinha comprado uma TV para mim. O resto não durava três dias”, conta.
À época, Jailson foi companheiro de Wendel, lateral-direito com mais de 200 partidas pelo Verdão. “Em 2003, eu quase vim para o Palmeiras junto com ele, mas acabou não dando certo. Ele já era muito esforçado e humilde. Mandava tudo o que recebia do Joseense para a família dele na Bahia. Acabava o treino e, como o clube não tinha academia, ele improvisava pesinhos, fazia um monte de flexões de braço”, recorda-se.
Chuteiras usadas
A amizade com Wendel o ajudou no início da carreira. O lateral costumava presentear o amigo com chuteiras. O goleiro Bruno, titular do Alviverde na conquista da Copa do Brasil de 2012, fazia o mesmo. “Quando o Wendel me dava chuteiras, tinha de tirar as palmilhas delas, porque os meus pés são um número maior. Quando eram do Bruno, eu as trocava com outro jogador, que me repassava um modelo 40. Sou muito grato aos dois”, reconhece.
Em 2003, Jailson se transferiu para o Campinense-PB, onde sofreu com a saudade de casa. Para conversar com os familiares, recorria a um telefone público. “Fiquei sete meses sem voltar para São José. Foi o pior período. Não tinha celular, internet, nada. Ligava todo dia do orelhão. Mas meus familiares me ajudaram muito, falavam para eu confiar no meu sonho e na minha luta”, rememora o jogador, que comprou um PlayStation com o primeiro salário recebido no clube paraibano.
Do calor do Nordeste, o goleiro seguiu para o Sul, onde defendeu o Juventude, da gélida Caxias (RS): “Fiquei pouco tempo lá, mas peguei um clima de 2 graus negativos. Como só sinto frio nos braços, ficava de bermuda. Os caras não acreditavam, me chamavam de maluco”.
O clube onde permaneceu por mais tempo foi o Guaratinguetá, de 2007 a 2012. Lá, viveu um episódio inusitado. Em 2011, o time gerido por empresários migrou para a cidade de Americana (SP): “Quando estávamos prestes a nos mudar, a torcida de Guará pedia para a gente entregar o jogo, falava para eu tomar gol de propósito. Foi complicado. Jamais concordaria em fazer uma coisa assim”.
Auge no Verdão
A chance de atuar pelo Verdão chegou em 2014, quando estava no Ceará. O primeiro dia, contudo, foi complicado. “O time estava em uma fase difícil. Aí teve a apresentação, um monte de câmeras, repórteres… depois, fui para o campo e éramos em sete goleiros. O Oscar (Rodriguez, preparador de goleiros) veio com alguns treinos diferentes, usando três bolas ao mesmo tempo. Nunca tinha feito nada parecido”, lembra-se.
Em 2014, ele não atuou. Na temporada seguinte, disputou três partidas antes de se submeter a uma cirurgia no tendão de Aquiles. Fim do sonho? Que nada! Determinado, recuperou-se e esperou por uma oportunidade. Em 2016, recebeu a missão de substituir Fernando Prass. Jogou todo o segundo turno do Brasileirão. Terminou invicto na campanha que culminou com a conquista do eneacampeonato nacional. Ganhou idolatria da torcida e o apelido de Jailsão da Massa. “Os palmeirenses me chamam assim e eu gosto muito. Sempre estou sorrindo, nunca ninguém me vê triste. Quero deixar esse legado aqui também”, avisa.
Fora dos gramados, Jailson se dedica ao mesmo passatempo da infância: a pescaria. Como não gosta de cozinhar nem de comer peixes, costuma trazê-los para funcionários da Academia de Futebol. “Dou meus pescados para o Geovan (roupeiro), o Daniel (massagista) e o João (encarregado de levar os uniformes do elenco). Eles gostam”, diz o goleiro, que, quando criança, pescava com vara de bambu – hoje, usa um molinete de última geração.
Piada de pescador
“Um dia, eu estava pegando peixe pra caramba, mas acabou a isca. Fiquei me perguntando: e agora o que vou fazer? Olhei para o lado e tinha um pedaço de papel. Escrevi isca no papel, coloquei no anzol e joguei. Daqui a pouco, começou a puxar. Dei uma fisgada e fui brigando, brigando… Quando arranquei o anzol para fora d’água, vi um pedaço de madeira escrito peixe.”
Handebol cupido
O futebol transformou a vida de Jailson, mas foi o handebol que lhe permitiu conhecer, sua mulher há seis anos. Em 2008, quando o Guaratinguetá treinava e manda
Durante uma folga, Mônica assistiu ao treino da equipe de futebol de Guará. O goleiro corria ao redor de um campo quando o Cupido o acertou em cheio. Foi amor à primeira vista. Ele pediu para o roupeiro do clube pegar o telefone da moça com quem trocara olhares. Mônica falou o nome errado, mas passou o número certo. As primeiras ligações não foram atendidas. Quando o apaixonado Jailson estava prestes a desistir, ouviu um “alô” do outro lado da linha. Após um ano de namoro e outro de noivado, veio o casório.
Mônica, que chegou a defender a Seleção Brasileira juvenil, jogou pelo Caxias-RS na mesma época em que o goleiro atuou pelo Juventude-RS. Na temporada 2015/2016, vestiu a camisa do Paulínia-SP. Meses atrás, assinou contrato com o Pinheiros-SP.
O casal não tem filhos, mas já conta com dois cachorros da raça chow chow chamados Shanaia e Shynayder.
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