Presidente da Crefisa revela quanto gastou para trazer Barrios, avisa que está reformando a Academia e não limita investimentos
O tempo previsto em contrato é de dois anos, até o fim de 2016, mas a renovação é quase certa caso Paulo Nobre consiga eleger um sucessor. O investimento inicialmente seria de R$ 23 milhões por temporada, mas já chegou à casa dos R$ 60 milhões anuais (considerando os acordos de patrocínio e a contratação de Barrios, e sem contar os cerca de R$ 8 milhões da reforma na Academia de Futebol, também bancados pela empresa) e não para de aumentar, já que a Crefisa não tem um orçamento para limitar seus gastos com o clube. O objetivo, por fim, é terminar 2015 com a taça do Brasileiro. Mas não só isso…
– Nós queremos que o Palmeiras seja o melhor time do Brasil. Nós queremos que o Palmeiras seja um ícone da América do Sul. E nós temos condições para isso! A administração é séria e o patrocinador é de peso, então não tem por que não ser – disse Leila.
Nesta entrevista, ela conta quanto suas empresas gastaram para trazer Barrios, explica porque preferiu o Palmeiras ao São Paulo, anuncia que pretende ajudar também na reforma dos prédios administrativos do clube e não descarta, acredite, nem comprar o Allianz Parque.
Vocês surpreenderam ao bancarem a vinda do Barrios. Podem vir ainda mais ações além do simples patrocínio?
A nossa relação com o Paulo Nobre e com o primeiro vice-presidente (Maurício Galiotte) é muito aberta, eles sabem que podem contar com a Crefisa e com a Faculdade das Américas no que precisarem. Nós estamos investindo no clube, não para a empresa. No Barrios, por exemplo, não temos vantagem financeira nenhuma. A vantagem é o Palmeiras ser campeão e vincular nossa marca com isso. Se o Palmeiras vender o Barrios, o combinado é que o que foi gasto seja restituído à Crefisa. Se houver lucro, é do Palmeiras. O que nós queremos ver é o Palmeiras campeão, 17 milhões de torcedores felizes. Estamos reformando o CT, vamos colocar iluminação no campo principal da Academia. Vamos fazer isso para o bem-estar dos nossos atletas, porque se eles não estiverem bem, não temos os resultados. A sede do Palmeiras, que fica ao lado do Allianz, tem uns prédios inacabados e vamos conversar para ajudar a finalizar. Mas não agora, porque estamos focados na Academia.
Obs: A reforma na Academia, onde está sendo finalizado um edifício com dormitórios e piscina, seria 80% bancada com dinheiro do “Fundo Brahmeiro” – cada lata de Brahma vendida em São Paulo gera um centavo para o fundo, e o valor total é dividido entre clubes de acordo com o número de fãs no Facebook. Como a verba vinha sendo insuficiente, a Crefisa decidiu ajudar e espera ter tudo pronto em quatro meses. A empresa deve ter naming rights desse complexo.
Obs 2: O Palmeiras considera que a WTorre entregou os prédios administrativos sem as devidas condições de uso e decidiu reformá-los. O custo é estimado em R$ 19 milhões, e já está decidido que o valor será arrecadado por meio de uma taxa cobrada dos sócios, o que gerou revolta e até ação judicial da oposição. Ainda não está definido se essa taxa será mantida se a Crefisa realmente resolver bancar as obras.
A ideia de trazer o Barrios foi de vocês ou da diretoria do clube?
Foi do Paulo Nobre. Ele procurou meu marido: “Olha, Zé Roberto (José Roberto Lamacchia, dono da Crefisa), nós precisamos de mais reforços”. O meu marido confia tanto no Paulo que não se falou em nome. Se o Paulo achasse melhor o Messi, nós traríamos o Messi (risos). Estou brincando! O Palmeiras procurou e fechou com o Barrios. Aí nos chamou e falou: “Olha, vai ser o Barrios. Tudo bem?”. Tudo bem! Se não fossem os patrocinadores, o Barrios não viria. O Palmeiras não teria condições financeiras. Nós ajudamos 100%, mas foi sugestão do Paulo Nobre.
Qual foi o valor da operação?
São R$ 40 milhões (em três anos de contrato), considerando toda a operação. Existem prêmios também, se o Palmeiras for campeão, se ele for artilheiro… O Palmeiras não vai ter despesa nenhuma com o jogador Barrios, mas é importante ressaltar que o jogador é do Palmeiras.
Vocês podem trazer outros jogadores para o ano que vem?
Sem dúvida. Nós queremos que o Palmeiras seja o melhor time do Brasil. Nós queremos que o Palmeiras seja um ícone da América do Sul. E nós temos condições para isso! A administração é séria, o patrocinador é de peso, então não tem por que não ser. Com o Palmeiras sendo grande, a nossa marca aparece no Brasil. É isso que nós queremos. E também temos muito amor pelo clube, é business misturado com sentimento. Muita gente diz que tem que ser profissional, mas ninguém fica cego se unir o profissional com o sentimental.
Esse sentimento faz com que vocês palpitem no futebol? Há influência nas decisões?
Não tem ingerência nenhuma no futebol, de escolher técnico, jogador… Em hipótese nenhuma! Mas nós somos palmeirenses, meu marido é fanático, e temos opiniões. Todo mundo dá opinião, por que o patrocinador não pode dar? Ele dá, mas como torcedor.
Antes de fechar com o Palmeiras, vocês conversaram com o São Paulo. Como foi essa concorrência pelo patrocínio?
Nós patrocinamos também o São Bernardo, que é um clube pequeno. Os outros clubes viram que nós estávamos no futebol, então o São Paulo nos procurou, o Santos nos procurou… O meu departamento de marketing me disse: “Leila, o São Paulo está nos procurando, o Santos… Podemos conversar?”. Eu falei: “Pode, mas vamos ver o Palmeiras também”. Nosso pessoal de marketing procurou o Palmeiras e veio com propostas desses três clubes. Nós ligamos para o Palmeiras e fomos conversar com o Paulo. Também estávamos conversando com o São Paulo, o Santos nem tanto. Nós fechamos extremamente rápido com o Palmeiras, porque eu já conhecia o Paulo e senti muita firmeza. Essa conversa de que nós fechamos com o Palmeiras por um valor menor que o do São Paulo é mentira. Foi muito mais! O São Paulo, se eu negociasse mais, acho que fecharia pela metade do que fechei com o Palmeiras. É que nós não prosseguimos com a negociação, isso é conversa. O São Paulo não fez a melhor proposta, pelo contrário. Fechamos com o Palmeiras porque confiamos na administração do presidente Paulo Nobre.
Você diz que pagaria menos para patrocinar o São Paulo, mas considerou a proposta do Palmeiras melhor. Por que?
É a administração, mas eu não quero falar de dirigentes, entendeu? O Palmeiras tem um estádio maravilhoso. O Morumbi… Sabe? Não tem comparação. Quando digo que é melhor, não é só financeiramente. Às vezes, tem clubes que me oferecem um patrocínio muito mais baixo, mas o retorno não viria. Não é só valor, é todo o retorno. Se fosse assim, eu pegaria clubes de Segunda Divisão e patrocinaria todo mundo.
Na época dessa negociação, já estava previsto que vocês investiriam muito além do acordo de patrocínio máster?
Isso foi se desenvolvendo com o relacionamento. A conversa inicial foi para patrocínio máster, ponto. O retorno foi excelente e resolvemos investir pela Faculdade das Américas. Se a parceria caminhar como está caminhando, a gente investe.
Há um orçamento fechado para investimentos no futebol?
É flexível. Aqui nós temos muita liberdade porque os donos da empresa somos eu e meu marido. A decisão parte da gente. Ele é palmeirense fanático, então fica sensibilizado. Estamos empolgados, mas sempre com os pés no chão.
A Crefisa nada contra a maré, já que poucos querem investir no futebol brasileiro hoje em dia. Vocês julgam que o Palmeiras nada contra a maré também, pela administração que tem?
Nunca tínhamos patrocinado time grande, começamos a patrocinar e tem dado retorno. Por que emprestamos dinheiro para negativado? Ninguém empresta. Nós queremos reabilitar essa pessoa. Isso nós fazemos há 50 anos. Com o Palmeiras é a mesma coisa. Estava lá embaixo, ninguém acreditava, mas a Crefisa acreditou. E olha só como está, saiu do vermelho (risos). Essa é a nossa característica, isso que queremos vincular.
Você acha que podem estar dando início a algo parecido com a “era Parmalat” no Palmeiras?
O Palmeiras ganhou títulos com a Parmalat, mas de quem eram os jogadores? A Parmalat saiu e carregou todos. A Crefisa e a Faculdade das Américas, não. Nós estamos reformando o CT, que é do Palmeiras. O Barrios? É do Palmeiras. Se ajudarmos a comprar outros jogadores? Serão do Palmeiras. O valor investido pela Crefisa e pela Faculdade das Américas é muito maior do que a Parmalat investia. Tudo bem que naquela época os jogadores não tinham esse valor absurdo de hoje, mas hoje temos o maior patrocínio nacional. É realmente a camisa mais valiosa do Brasil, e para o Palmeiras essa parceria é melhor do que a da Parmalat. Calma, a gente vai começar a ganhar. As pessoas não lembram daquela época porque era a Parmalat, mas porque era um time vencedor. É o que queremos fazer com o Palmeiras hoje. Queremos que as pessoas lembrem do time vencedor com a Crefisa, da era Crefisa. Ainda vamos fazer esses torcedores muito felizes.
A empresa faz uma previsão de retorno em dinheiro?
Isso é difícil saber. Se for campeão, é lógico que agrega valor. Eu queria ver se o Palmeiras só perdesse, se iam falar de era Parmalat. É o que a gente busca agora, um time vencedor para a nossa marca e para o nosso clube.
Em meio a tantos investimentos, vocês pensam em comprar o Allianz Parque da WTorre para acabar de vez com a má relação entre a construtora e o clube?
Não, por enquanto não, mas nada é impossível. Nada é impossível. Primeiro queremos arrumar a Academia, depois vamos arrumar a sede, que é ao lado do estádio. Aí, quem sabe? Em vez de Allianz Parque, Crefisa Parque? Arena Crefisa? Por enquanto não temos isso em mente, mas também não tínhamos em mente patrocinar um clube grande. E estamos patrocinando. Não tínhamos em mente ajudar na aquisição de jogador, e trouxemos um jogador valioso, que é o Barrios… Pode ser uma boa ideia. Não descarto.
Obs: A WTorre gastou mais de R$ 600 milhões para reformar o antigo Palestra Itália. A construtora, por contrato, tem direito a explorar o estádio pelos próximos 30 anos. O Verdão tem toda bilheteria dos jogos, mas fica com pequenas parcelas das outras várias receitas.
O contrato de vocês com o Palmeiras acaba em dezembro de 2016. Para ter uma parceria tão forte quanto a da Parmalat, é preciso mais tempo. Já há conversas para prolongar?
Sim, se continuar essa mesma administração. O que anima o patrocinador é a seriedade da administração. Ninguém quer jogar dinheiro no lixo, nós queremos saber para onde vai o dinheiro. O objetivo é tornar o Palmeiras forte. Se nós sentirmos que o sucessor do Paulo é tão sério quanto ele o patrocínio vai ser bem duradouro.
Obs: O segundo mandato de Paulo Nobre acaba em dezembro de 2016 e ele não poderá se reeleger. O candidato mais provável da situação é Maurício Galiotte, primeiro vice-presidente da gestão atual.
Como são você e seu marido como torcedores do clube?
Quando ele era mais jovem, não perdia um jogo pelo Brasil. Depois, ficou mais velho e não perdia mais nenhum jogo em casa (risos). Agora, não perde mais nenhum jogo no Allianz, está sempre na arena. Ele é tranquilo, tanto que não gosta de falar com a imprensa, é tímido. Eu não era palmeirense, sou carioca, de família vascaína. Mas virei (risos).
No Paulistão, vocês se envolveram em polêmica por patrocinarem a arbitragem. A Crefisa se arrepende disso?
Olha, não vou dizer que foi um erro. É bom esclarecer que quem ofereceu foi a Federação. Nós não procuramos, eles vieram até nós e aceitamos. Nós queremos visibilidade. De boa fé, começamos a patrocinar. Houve um burburinho tão grande, mas tão grande, que no fim das contas achei melhor tirar. Quem quer subornar algum árbitro não escreve o nome na camisa! Um absurdo. Chegaram a dizer que queríamos beneficiar o Palmeiras, mas poderia ser justamente o contrário. Nós não pensamos nisso e fomos um pouco ingênuos. Pensamos na exposição da marca e ponto. Quando começou aquilo tudo, achei melhor encerrar, tirar e pronto. E quase fomos campeões…
Fonte: Lancenet
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