Um dos fatos mais conhecidos do mundo futebolístico é que times que jogam pelo empate, saem de campo derrotados
Carlos Massari (@carlosmidiasep)
Colunista da Mídia Palmeirense
Cuca venceu a Libertadores de 2013 pelo Atlético Mineiro na base do sofrimento. Nas quartas de final, diante do Tijuana, o goleiro Victor defendeu um pênalti no último minuto. Nas semi-finais e na decisão, perdeu as partidas de ida por 2 a 0, precisando reverter dentro de casa na base do abafa, inclusive com gol aos 51 minutos do segundo tempo e disputas na marca da cal. Foi um títulos mais brigados e milagrosos da história do futebol.
Aparentemente, ele tem a intenção de fazer a mesma coisa com o Palmeiras de 2017. Nenhuma outra coisa pode explicar a atuação medrosa do segundo tempo da derrota desta quarta-feira diante do Barcelona do Equador, quando o alviverde decidiu abdicar de jogar futebol e esperar o apito que colocaria ponto final em um 0 a 0. Não deu certo, como nunca dá.
Um dos fatos mais conhecidos do mundo futebolístico é que times que jogam pelo empate, saem de campo derrotados. Isso porque atraem os adversários para cima de si, e mesmo que não haja muita qualidade técnica do outro lado, alguma bola desvia em alguém e vai parar no fundo das redes. Com isso, mesmo sem ter criado nenhum lance de real perigo até então, o Barcelona conseguiu balançar a rede defendida por Fernando Prass aos 46 minutos do segundo tempo, fazendo com que o compromisso da volta venha a ser muito mais difícil do que deveria.
“O medo corrói a alma”. Esse é o título de um dos grandes filmes do cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, e eu costumo levá-la como filosofia de vida. É necessário dar a cara a tapa e encarar todas as situações que a vida – ou o futebol – nos apresenta. Jogar pelo 0 a 0 não funciona em lugar nenhum. E esse medo apresentado pelo Palmeiras na trágica noite de quarta-feira corroeu os sentimentos de milhões de torcedores.
Fizemos, sim, um bom primeiro tempo. Criamos as chances mais perigosas e não permitimos muito avanço do Barcelona. Parecíamos ter o jogo na mão até que os rivais decidiram que era o momento do abafa. Sem jogadores capazes de segurar a bola no ataque, passamos apenas a nos defender. Sem soluções de saída. Sem esforços para contra-atacar. Como Fernando Prass não era exigido e a bola não rondava a nossa área perigosamente, o time decidiu que sairia do Equador com um 0 a 0. E esse foi o maior erro que Cuca já cometeu como treinador do Palmeiras.
É possível reverter o placar. Já demonstramos imensa força dentro do Allianz Parque, já ganhamos títulos por lá, já vencemos disputas por pênaltis, já marcamos diversos gols nos acréscimos, já buscamos resultado após estarmos perdendo por 3 a 0. Eu acredito sim que reverteremos e que o Barcelona não suportará a pressão de jogar no nosso caldeirão. Mas mesmo que a classificação venha, isso não muda o fato de que o sofrimento terá sido desnecessário.
O Palmeiras precisa jogar bola. É um time técnico, veloz, com elenco estelar. É montado para vencer, e não para cozinhar jogos e segurar empates. O medo correu a alma alviverde. O preço pago por ele foi uma derrota evitável e que pode trazer juros incalculáveis.
Essa será a Libertadores do sofrimento até o final? Não poderemos respirar em paz em nenhum momento? Cuca quer replicar todos os passos do Atlético Mineiro de 2013? Bom, nós não queremos nada disso. Só um time confiante, que se dedique a jogar o futebol que pode e que ao menos tente vencer. A lenda do “clima de Libertadores” faz com que times de alta qualidade técnica se nivelem por baixo com adversários e se entreguem a situações péssimas, quando deveriam apenas fazer o que sabem dentro do gramado.
Existe um mês até o jogo de volta. Que até entrar em campo nessa partida decisiva, o Palmeiras aprenda a deixar o medo bem longe do estádio.
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