É necessário arrumar o sistema defensivo em 2018
Carlos Massari (@carlosmidiasep)
Colunista da Mídia Palmeirense
O Palmeiras de 2017 foi um arremedo do de 2016 em todos os sentidos, mas nada viu uma queda de rendimento tão grande como o setor defensivo. A tranquilidade e confiança que tínhamos na capacidade do time campeão brasileiro de impedir os avanços adversários deu lugar a um desespero generalizado cada vez que não tínhamos a ação ofensiva, uma ideia de que qualquer investida medíocre, fosse em jogada trabalhada, contra-ataque ou bola parada, poderia acabar balançando as redes alviverdes.
Os números comprovam essa diferença: em 2016, jogamos 67 partidas e sofremos 62 gols, números até inflados pelo péssimo começo de ano com Marcelo Oliveira. Em 2017, o Palmeiras entrou em campo 68 vezes e viu seus guarda-metas buscarem a bola no fundo das redes 76 vezes. Inclusive, é possível atribuir a queda de rendimento geral à ineficiência defensiva, uma vez que o número de gols marcados subiu de 110 para 114.
Podemos tentar atribuir essa queda de rendimento a diversos fatores. O primeiro é a saída de Vitor Hugo, zagueiro fundamental por sua velocidade e qualidade aérea na campanha de 2016 e que foi vendido para a Fiorentina no começo do ano passado. Quando jogava ao lado de Yerry Mina, a defesa se tornava quase impenetrável. O próprio colombiano, aliás, perdeu muito tempo com lesões e convocações para a seleção colombiana em 2017 e muitas vezes tivemos que alinhar uma defesa com talento muito inferior ao que estávamos acostumados.
Outra possível causa é a mudança no estilo de jogo. Cuca em 2016 fazia com que o time não ficasse jamais recuado. Assista aos replays de partidas que vencemos por um gol de diferença na campanha do enea e repare como, nos minutos finais, mantínhamos a posse de bola e não sofríamos sufoco. Eu me recordo especialmente de um triunfo sobre o Flamengo, no Rio de Janeiro, no qual após marcarmos o tento decisivo praticamente não permitimos mais nenhum avanço além do meio-campo ao adversário – tudo isso na base de toques rápidos e inteligentes.
Tanto Eduardo Baptista (supostamente adepto da posse de bola), como o próprio Cuca e Alberto Valentim falharam redondamente ao tentarem encontrar um equilíbrio para a equipe em 2017. Levar sufoco era comum, ainda mais em jogos decisivos. Tomamos três gols no primeiro tempo em três partidas que valiam muito, coisa inaceitável. Era um time exposto e sem contenção quando precisava buscar o resultado e que sofria sufoco quando estava à frente.
As péssimas fase dos contratados Luan e Juninho (nos quais eu ainda acredito pelo que demonstraram em seus clubes anteriores), a falta de um primeiro volante veloz e capaz de cobrir a Avenida Egídio (Felipe Melo, apesar de muito bom no desarme e no passe, é lento) e esquemas táticos ineficazes (a marcação homem a homem de Cuca que funcionara tão bem em 2016, a linha alta de Valentim) só pioraram toda a situação e geraram uma bola de neve que levou a defesa alviverde ao caos completo em 2017.
2018 chega e, se havia um abacaxi para o Palmeiras resolver, era o sistema defensivo. Com o que já foi montado nos tempos que antecedem à estreia no Campeonato Paulista, diante do Santo André, eu não estou no mais pleno estado de otimismo quanto a esse conserto acontecendo.
Explico: foram feitas duas ótimas contratações para as laterais, Marcos Rocha e Diogo Barbosa. Eles são muito melhores que o que tínhamos no ano passado e até retrasado, mas são jogadores ofensivos. Ambos são avenidas tão expostas como a Egídio, com o primeiro sendo constantemente criticado pela defesa do Atlético Mineiro por sua ineficiência na recomposição após o apoio. O segundo, apesar de não deixar tanto a desejar, também se colocou entre os melhores atletas de sua posição no Brasil pelo que produz no ataque.
Eu gosto muito da ideia de ter dois laterais com o talento de Rocha e Barbosa, mas eles precisam de ajuda, de um sistema de jogo que permita que seus avanços não sejam punidos por contra-ataques mortais. Para isso, é necessário um primeiro volante de velocidade, capaz de cobrir lateral a lateral do campo em um curto espaço de tempo. Felipe Melo certamente não é adequado por sua idade e lentidão, Tchê Tchê e Jean não tem experiência na função e não são marcadores de grande qualidade. Sobra Thiago Santos, mas é muito difícil que Roger Machado opte por ele como titular em um elenco tão talentoso.
Moisés deve ajudar jogando mais recuado, como um segundo volante, e isso tranquiliza um pouco mais a situação. Só que Lucas Lima, ao menos pelo que mostrou no Santos, é um dos atletas menos adeptos da ideia de marcar e recompor que existem.
O maior problema, porém, é a saída de Yerry Mina para o Barcelona. É necessário que Alexandre Mattos se mexa e traga ao menos um zagueiro de altíssimo nível para ser o líder da zaga, que conta apenas com um veterano em final de carreira em Edu Dracena e uma série de atletas que tem potencial, mas ainda precisam provar que pertencem a um clube da grandeza do Palmeiras, como Luan, Juninho, o prata da casa Thiago Martins e o recém-chegado Émerson Santos.
Roger Machado recebe nas mãos um quebra-cabeças defensivo complicado de montar. Como aliar o ímpeto ofensivo dos laterais a um esquema que permita a todos os jogadores muito talentosos do meio para frente não serem sacrificados? Como armar uma zaga que ainda tem muito a provar? Apostar em Felipe Melo por sua qualidade com a bola nos pés e experiência mesmo sabendo que sua lentidão pode comprometer um esquema muito ofensivo? São muitas questões que o novo treinador precisa conseguir resolver.
As falhas que derrubaram Roger no Atlético Mineiro foram justamente por sua defesa. Foram 41 gols sofridos em 43 jogos, números não tão ruins mas que são disfarçados pela fragilidade dos rivais do estadual. Como o treinador estudioso que é, precisa demonstrar que aprendeu como armar um sistema defensivo eficiente.
O Palmeiras tem para 2018 uma plenitude absurda de talentos ofensivos e não deve ter problemas para balançar as redes adversárias. Paira a dúvida sobre a defesa: já aprendemos que ataques vencem jogos, defesas vencem campeonatos. Da diretoria ao treinador, todos precisam encontrar soluções para que o nosso desempenho no novo ano se pareça com o de 2016, não com o de 2017.